O lendário investidor Charlie Munger morreu esta semana aos 99 anos. Parceiro de Warren Buffet, ajudou a construir o colosso Berkshire Hathaway, naquele que é a sociedade mais bem sucedida e referências neste mundo dos investimentos.
Mas Munger reconheceu no seu percurso muitos erros. E essa é a prova que mesmo os campeões têm derrotas, cometem erros. Mas Munger sempre lembrou a importância de aprender com esses erros. E como lembrava numa entrevista em 2021, já com 97 anos, o essencial do sucesso foi que não cometeu novos do mesmo tipo.
Considerou a compra de ações da Alibaba como um dos seus piores erros. Da mesma forma errou ao perder a oportunidade de ganhar “muitos bilhões” não comprando ações na Belridge Oil quando teve a chance. A empresa, adquirida pela Shell em 1979, devolveria 30 vezes o preço pelo qal Munger podia ter pago.
Criptos são veneno …
Charlie Munger chamou as criptomoedas de “doença venérea” e considerou a inteligência artificial superestimada. Não estaremos de acordo com essa visão, pelo que podemos até considerá-las na lista de erros de Charlie, porém é bom verificar que com mais de 90 anos, há um padrão mais conservador que é natural, principalmente quando sempre correu bem, não é fácil conceitos de transação de coisas “modernas”, chamemos-lhes assim. Em relação à Inteligência artificial considerou-a apenas um hype, afirmando que a inteligência convencional ainda funciona muito bem. Disse Charlie “uma criptomoeda não é uma moeda, não é uma mercadoria e não é um valor mobiliário. É um contrato de jogo com uma vantagem quase 100% para a casa. É útil para sequestradores e extorsionários”. Quando a Bitcoin estava a ser negociada a 150 dólares afirmou que “É veneno de rato”. Sabemos onde chegou mais tarde a BTC. Quando confrontado com o preço nos milhares de dólares da criptomoeda, Charlie não vacilou: ”sim, é apenas um veneno de rato mais caro”. Ele orgulhava-se de ter evitado as criptos. Um adepto de investimento apenas em empresas, o avô Charlie tinha quase a mesma opinião de derivativos, descrevendo-os como mesas de casino disfarçadas”.
Estudar, Estudar, Estudar …
Munger considerava a ideia de que investir é algo fácil que não dá trabalho, uma ficção ou ultraje. Investir dá trabalho. A aprendizagem, o estudo, têm de ser dedicados.
“Sem a aprendizagem podemos ganhar aqui e ali, mas no longo curso, não vai funcionar bem. Na minha vida não conheci pessoas sábias que não lessem o tempo todo, que não estudassem. Ficariam surpresos com o quanto Warren (Buffet) lê e com o quanto eu leio. Os meus filhos riem-se de mim, acham que sou um livro com algumas pernas para fora. Uma vida bem vivida baseia-se em aprender, aprender, aprender o tempo todo.”
Como investir hoje …
Sobre o Mercado de Investimento, destaco uma das últimas declarações que Charlie Munger fez já em 2023
“Há tanto dinheiro agora nas mãos de tantas pessoas inteligentes, todas a querer superar-se umas às outras. É um mundo radicalmente diferente do mundo em que começamos. Então é importante ajustarmos a ideia de que os ganhos vão ser menores do que antes foram. É importante ter participação e estar no comboio de 3 das 12 empresas que mais valorizam em cada momento. A ideia de diversificação para controlar o risco é sensata, mas uma diversificação vasta é perigosa, porque não é fácil encontrar uma infinidade de boas oportunidades. Diversificar em vários cestos sim, em dezenas deles, tenho muitas dúvidas se vão tornar você mais rico. Escolha as melhores, ou coloque nas melhores a maior parte do seu cesto”
E ainda: “Hoje, algoritmos de computador negoceiam com outros computadores. E no meio há um conjunto enorme de pessoas a comprar ações, derivativos, criptomoedas, fundos, que não sabem nada. Aconselhadas por pessoas que sabem ainda menos. É uma situação incrivelmente louca… que só beneficia quem sabe mais, quem usa a informação, quem usa o estudo. Quem aprender a fazer bem, a ficar do lado certo com investimentos informados, esclarecidos, terá a alta probabilidade de ganhar. E esse padrão torna-se ele mesmo um algoritmo. Que podemos chamar de algoritmo fundamental da vida. Repetir o que funciona”.
Em relação ao mundo atual na dinâmica económica o avô Munger referiu antes do disparo de 2022 da inflação e das Taxas de Juro dos Bancos Centrais… “Com a inflação e taxas de juros tão baixas, o que vai acontecer é que os millennials terão um tempo terrível para enriquecer, em comparação com os seus pais e avós. A diferença entre ricos e pobres na geração que virá aí, será muito menor. Então Bernie venceu (Ben Bernanke, presidente da FED entre 2006 e 2014, reduzindo as Taxas de Juro a Zero). Ele fez isso por acidente, mas venceu.”
Um dos conselhos mais famosos de Munger para Buffett foi parar de procurar preços de saldo. “É melhor comprar três empresas maravilhosas mais caras, desde que seja um preço justo, do que dezenas de empresas comuns mais baratas!”
A vida é …
Sobre a vida, Munger dizia acreditar que “…é uma série de custos de oportunidade. Ela terá golpes terríveis, golpes horríveis, golpes injustos. Não importa. Algumas pessoas recuperam e outras não. A atitude de Epicteto é a melhor. Ele achava que cada revés na vida era uma oportunidade de se comportar bem. Cada revés uma oportunidade de aprender algo e seu dever não era se afogar na autocomiseração, mas utilizar o terrível golpe de maneira construtiva. Isso é uma ideia muito boa.”
Ao longo dos anos, ele doou grande parte da sua riqueza, doando mais de 75% de suas ações da Berkshire, num património líquido de perto de 2,6 mil milhões de dólares, segundo a Forbes. Na sua última década afirmou “não sou imortal… para onde vou não vou precisar disto!”
Munger referiu em relação à viagem pela vida: “Comece por escrever o seu obituário desejado, depois comporte-se de acordo.”
A crítica mentalidade de negociação …
Na busca de solução para enfrentar os seus próprios vieses mentais, Munger mergulhou no campo da psicologia comportamental. Todos temos tendência de ignorar falhas nas coisas que gostamos e ignorar virtudes nas coisas que não gostamos. Mais cedo ou mais tarde todos nos confrontamos com o facto de uma aversão à perda superar a satisfação de ganhos.
É nossa tendência fazer julgamentos relativos em vez de absolutos, reagir de maneira extrema ao stress, seguir ordens de figuras autoritárias e as ações daqueles ao nosso redor, distorcer factos até que possamos suportá-los.
Superar esses vieses permite tomar decisões melhores. “As pessoas estão tentando ser inteligentes – tudo o que estou tentando fazer é não ser idiota, mas é mais difícil do que a maioria das pessoas pensa” dizia Charlie
Ganhou total imunidade ao FOMO [medo de perder] que levou tantos investidores à destruição. Para ele, o sucesso nos investimentos e na vida, não se tratava de ser melhor que os outros ou enriquecer mais que os outros, mas de buscar a satisfação. “Se você está confortavelmente rico e outra pessoa está enriquecendo mais rápido do que você, investindo em ações arriscadas, e daí? Alguém sempre estará enriquecendo mais rápido do que você. Isso não é uma tragédia.”
Munger e Buffett não tinham segredos. Realizavam as suas reuniões num estádio gigante em Omaha para poderem partilhar o que haviam aprendido com qualquer pessoa disposta a ouvir. Partilhavam as suas dicas e experiências com outros investidores da Berkshire. O vice-presidente trabalhava com Warren Buffett desde 1975, que dele lembra as duas frases que mais o influenciaram na vida foram:
“Warren, pense mais sobre isso” e “Você é inteligente e eu estou certo”
Se há um segredo para o sucesso nos investimentos, não se trata de replicar um processo ou um estilo, nem de procurar por títulos com determinadas características. É uma busca profundamente pessoal por autodesenvolvimento, conhecimento e humildade.
Citando o enorme Charlie Munger: “O jogo da vida é o jogo da aprendizagem eterna!”
