Os momentos de extrema volatilidade nos mercados financeiros repetem-se ao longo da história. Não são os momentos de correção de mercado ou de tendência “Bear” continuada. Os momentos de “Crash” no mercado são quedas abruptas nos preços das ações e outros ativos. São raros mas muito violentos, têm o poder de abalar a confiança dos investidores e causar prejuízos significativos.
Uma Visão Histórica
Black Monday de 1987:
A 19 de outubro de 1987, a queda dramática nos preços das ações conhecida como “Black Monday”, resultou numa perda de quase 23% no índice Dow Jones num único dia. Chocou investidores e autoridades reguladoras, levando a uma revisão das práticas de negociação e controle de risco.
Ataques de 11 de Setembro de 2001:
Os ataques terroristas nos Estados Unidos em 11 de setembro de 2001 provocaram uma reação em cadeia nos mercados globais, levando a uma queda acentuada nos preços das ações e um aumento na volatilidade. Os mercados já estavam interligados entre si e repercutiu-se à volta do mundo a situação. Percebeu-se que eventos geopolíticos eram globais e deviam ser considerados na formulação de estratégias de investimento.
Flash Crash de 2010:
A 6 de maio de 2010, os mercados financeiros americanos foram abalados por um flash crash, com o Dow Jones a cair mais de 1.000 pontos em poucos minutos, antes de se recuperar rapidamente. As ordens criadas e executadas por algoritmos e computadores acionou sequencialmente ordens de venda com volumes altíssimos e não foi possível travar por minutos a sequência. Foram introduzidas alterações de supervisão, mas a automação de negociações hoje tem até mais músculo.
Covid-19 em 2020:
A pandemia de Covid-19, em Março de 2020, desencadeou outro crash nos mercados financeiros, com os principais índices de ações a registarem perdas significativas com o pânico dos investidores perante a incerteza económica e a paragem da economia mundial. Algo que reforçou a importância de uma gestão de risco sólida e estratégias de investimento baseadas em fundamentos sólidos.

Lições Aprendidas da história
Mais rápidos (em minutos/horas) ou mais lentos (por uma sequência de alguns dias) os momentos de Crash são violentíssimos. E da mesma forma que se assiste ao processo de dias sucessivos em que a perda de valor das ações se acentua, os indicadores de pânico dos investidores faz-se sentir. À medida que a pressão aumenta, a velocidade de descida aumenta. Até ao que se considera a capitulação. O dia em que o preço tem uma última descida ao ponto de se esgotar o último dos investidores que vendeu. A partir daí, o mercado sobrevendido, começa a recuperar. E é aí que os investidores institucionais com grande ordens de compra entram como locomotivas de um novo ciclo.
É necessário traçar planos de negociação claros, estabelecer níveis de stop-loss e lucro bem definidos e ter o máximo de dinheiro disponível nessa altura para aproveitar oportunidades de compra.
Investidores que entram em pânico durante quedas do mercado e vendem as suas carteiras perdem terreno, de acordo com uma análise a 12 períodos de crash desde 1980. Quem ignora a agitação emocional do mercado e se concentra no longo prazo é recompensado pela sua paciência e disciplina.
Foco do Longo Prazo
Mercados em baixa e correções fazem parte do investimento. Desde 1980, houve 12 crashes em ações globais com declínios de mercado de 20 por cento ou mais que duraram pelo menos dois meses. Tecnicamente, apenas 10 desses foram mercados em baixa. Os mercados recuperam.
As ondas de alta do mercado são mais longas e mais fortes do que os mercados em baixa que as antecedem. Nos últimos 40 anos, o período médio de um mercado em baixa, ou declínio de 20 por cento, foi de 236 dias. O período médio de um mercado em alta foi de 851 dias, ou quase quatro vezes o mercado em baixa. O retorno total médio de um mercado em alta foi de 99%, o que significa que a parte de ações de uma carteira quase dobrou. Os retornos totais médios de um mercado em baixa foram de -28%.
Se não dependeres de ganhos de curto prazo no mercado, será mais tranquilo com a aposta numa carteira resiliente. Independentemente de alguns crashes, ao olhar para uma ação 10 ou 20 anos depois fica fácil de entender que não foram mais do que pequenos sobressaltos.
Disciplina na volatilidade
Em tempos de extrema volatilidade, é fácil deixar as emoções assumirem o controle. Com um plano de negociação definido tem-se consciência maior do “campo de batalha”. A turbulência pode confundir a visão que tens do mercado, se não souberes onde estás com o máximo de certezas do caminho.
É impressionante o número de traders que não consegue perceber o terreno que pisa quando está a negociar. A situação é mais nefasta quando o mercado começa a cair de modo mais acelerado durante vários dias. Saber os níveis de suporte, perceber a dinâmica do que está a acontecer, permite estratégias que estagnem perdas muito maiores. Quando se é surpreendido em minutos ou horas, é mais difícil responder, a não ser quem seja day trader. Mas quando o mercado faz voo picado e o volume se acentua, é bizarro ficar agarrado a perdas progressivamente maiores sem fazer nada para travar essa perda. Estar informado de eventos económicos e geopolíticos que afetam os mercados financeiros, aprender a ler e interpretar análise gráfica e perceber os instrumentos para acionar proteção de portfólio, é decisivo para os investidores mais eficazes.

Diversificar
Uma carteira bem diversificada pode ajudar a mitigar os riscos associados aos crashes, distribuindo o capital entre diferentes classes de ativos e setores da economia. Isso pode ajudar a proteger contra perdas significativas num único investimento ou setor.
É básico entender que uma carteira diversificada te protege melhor em termos de condições adversas do mercado. A queda de um investimento pode ser compensada por outro ativo. Evidente que, quando estamos perante um afundanço global do mercado, a exposição é maior, pelo que a esse nível, ter os vários investimentos alocados a diferentes setores pode ratear mais a perda. Uns setores são mais impactados do que outros.
Compensar perda não é vender
É diferente vender uma ação a perder (assume-se prejuízo) ou proteger com outro instrumento a perda a acumular nessa ação ou ativo. Um outro instrumento que ganhe valor com a descida de mercado. Claro que podem ser Opções, mas podem ser também ETFs multiplicadoras de Mercados Bear ou de modo simples entrar curto na própria da ação. Vender todos os investimentos durante uma queda do mercado só aumentará as perdas.
Quando o mercado capitula, essa deve ser entendida como a grande oportunidade de compra. É natural que não consigas adquirir essas ações pelos preços mais baixos de todos mas é aí que interessará começar a fazer aumentar progressivamente o investimento, carregando em sucessivas retrações. É mais seguro nessas circunstância do que acumular a preços mais baixos sempre, mas o mercado sempre em queda. Sim, está-se a fazer a Media de Custo Dólar ou Euro da ação, mas porque se entra com uma tranche a 15 se o preço se adivinha vir descer até aos 12?
Ter disponível fundo de emergência
Se todo o dinheiro fica “entalado” num crash é difícil melhorar posição média de compra dos ativos se não tiveres mais fundo de emergência para investir. O Cash Flow para aproveitares os novos preços baixos é essencial para tirares partido de futuros lucros maiores. Não há decisões infalíveis e terás de ter a sensibilidade para tomar uma decisão avisada que aqui sem olhar ao caso, é impossível dar-te.
Talvez vender as tuas posições ainda positivas, ou com perdas mais aceitáveis. Criar fundo disponível para reentrar mais abaixo permitirá compensares essas perdas anteriores. Porque, os preços voltarão, mais cedo ou mais tarde no tempo, a passar na maior parte dos casos pelos anteriores máximos. A história, demonstra-o.
Preferencial, porém, pode ser nunca investires todo o teu cash no mercado. E ter sempre disponível um valor para aproveitar os descontos de mercado.
A vantagem do crash para mais valias futuras
O longo prazo permite recuperar parte da perda:. Admitindo para efeitos de IRS que perdeste 20% ou 30% do teu valor global de carteira. Por um lado, se o teu objetivo era de lucro rápido isso representa um problema para a tua estratégia. Mas financeiramente pode não o ser, acreditando que nos 12 meses seguintes o mercado recupere.
É que se os ativos forem detidos por mais de 365 dias, há vantagens objetivas no pagamento de imposto sobre mais valias. Ou seja se a venda for realizada após um ano, o lucro líquido é percentualmente muito mais atraente do que em vendas anteriores a um ano. Nota: Esta informação tem muitas variantes e deves/podes procurar mais detalhe neste artigo da Deco Proteste em relação à tributação de mais valias em Portugal Como declarar os investimentos no IRS? (proteste.pt)

O Refúgio do ouro
A história demonstra que em alturas de incerteza e volatilidade a compra e valorização do ouro é prática habitual. A recente subida do preço do ouro no início de 2024 pode antecipar momentos complicados para o futuro. Ou uma desvalorização continuada ou acelerada das moedas fiduciária. A esse nível mas com uma volatilidade bem mais acentuada as principais criptomoedas, a bitcoin em particular, tem sido usado com o mesmo objetivo. Porém, no que diz respeito à Bitcoin há mais variantes que influenciam o preço e tem-se assistido até a um espelho na flutuação dos mercados globais e da Bitcoin.
Mas em relação ao ouro, ele provou até agora ser um ativo relativamente estável que pode reduzir o risco da carteir, tal como se mostrou também um bom hedge contra a inflação. Entre 2004 e 2021, os preços do ouro apreciaram 320%, com um retorno médio anual de 18,8%. Isso torna-o uma boa adição para qualquer carteira de investidor.
Conclusão
Com a preparação certa e as estratégias adequadas, podes aprender a proteger os teus investimentos e até mesmo prosperar em momentos de grande volatilidade do mercado. Ao aprender com os erros do passado e aplicar os modelos aprendidas, é possível enfrentar esses tsunamis que provocam destruição massiva e conquistar mais lucrativos objetivos financeiros a longo prazo.
Garantir ganhos a longo prazo depende da tua capacidade de suportar condições de mercado voláteis e permanecer comprometido até que o mercado se recupere.