A ideia de comprar quando todos vendem é sedutora. O próprio nome — buy the dip — tem um apelo emocional irresistível. Parece óbvio: comprar barato, vender caro. Mas o que este mantra esconde é que isso continua a ser basicamente uma capacidade de acertar no “timing” do mercado.
A história mostra que, tentar cronometrar o mercado é um dos maiores pecados do investidor médio. Em vez de tentar adivinhar o topo e o fundo perfeitos, procura-se entrar em momentos de fraqueza relativa dentro de uma tendência maior de alta. Essa é a tática certa. Tem muito menos ego e mais humildade. Vamos ser claros. É quase impossível acertar no “fundo perfeito”. Por isso, construir posição a partir de um fundo que não tem de ser perfeito, pode funcionar.
O fascínio de comprar no fundo
Os mercados não sobem em linha reta. O preço oscila em ciclos — acumulação, subida, distribuição e queda. É um padrão, quase fractal, que permite entradas estratégicas nos “vales”, com saídas nos “picos”. Funciona porque o mercado é cíclico.
Na prática, usa-se análise técnica (retracements de Fibonacci, médias móveis) para identificar esses pontos. E, claro, nunca esquecer que a economia real também segue o seu próprio ciclo — expansão e contração — medido por dados como o PIB e o emprego a cada momento.
Mas atenção: nem toda queda é uma oportunidade, e nem toda recuperação é o fim do pesadelo. Durante recuperações de mercado, é comum observar o fenómeno conhecido como o “pulo do gato morto”, onde há uma breve recuperação nos preços seguida por novas quedas.
“Toda a gente tem um plano até levar um murro na cara”. A frase é do pugilista Mike Tyson. Há muitas formas de analisar as zonas onde a queda/reversão para nova baixa, pode ocorrer. E todas as que funcionam são boas. A nossa preferida são as retrações de Fibonacci, que definem as áreas onde os “pulos do gato morto” podem ter reversão.
O risco de esperar “O Dip perfeito”
Um dos grandes perigos é tentar ser o herói do mercado: “vou comprar quando tudo cair”. O problema? Quem perdeu os 10 melhores dias de mercado nos últimos 30 anos pode ter cortado em muito o seu retorno.
Ainda na última semana, independentemente dos fatores que levaram a essa grande reversão dos mercados, depois de uma queda em três dias que somaram mais de 10% de perdas, tivemos numa zona que era tida como de possível suporte uma reversão atómica. O mercado teve um dos seus maiores dias de ganhos absolutos de sempre, com quase 10% de subida do índice SP500. O ressalto aconteceu numa convergência de três suportes. Um no canal descendente da correção atual de 2025, o suporte que ligou várias correções a crise Covid de 2020 e o suporte horizontal a que corresponde a alta de mercado em Janeiro de 2022.

Mas será este o “fundo perfeito”? Nunca se sabe. Em 33 correções nos últimos 97 anos, em média as descidas foram de cerca de 14% e duraram em média 116 dias. Mas uma média tem variações grandes. As correções de 2010 e 2011 chegaram aos 16% e 19,4%, respectivamente, a de 2018 atingiu os 19,8%.
Como gerir o risco de comprar na baixa?
Se vais entrar em dips, entra preparado. Estratégias práticas incluem:
- Stop losses bem colocados – protegem contra reversões reais de tendência.
- Confirmar a tendência de alta – não compres antes da reversão ser confirmada.
- Confluência de estratégias – usa ferramentas como a Fibonacci, as linhas de suporte/resistência e as médias móveis.
- Dollar-cost averaging (DCA) – a estratégia de acumular em zonas ideais à medida que o ativo perde valor. E comprar na queda em várias zonas-chave para suavizar os riscos e acumular valor futuro a um preço médico mais baixo. Será difícil tentares acertar o ponto exato. Repare-se nesta variável referida. O DCA habitualmente é designado com uma aquisição regular no tempo de um valor num ativo. Exemplo, ao dia 1 de cada mês ou todas as 2ªs feiras a cada quinzena, é acrescentado mais um pouco de investimento num ativo, em acumulação. Essa abordagem é grosseira. Por que razão se faz uma aquisição de acordo com o calendário e não no “momento certo/área certa” que o mercado aconselha?
Comprar na baixa sem gestão de risco é como tentar apanhar uma faca em queda com os olhos fechados. Pode correr bem… mas a estatística não está do teu lado.
Comprar “em baixa” mas com cabeça
É fácil olhar para gráficos do passado e ver dezenas de oportunidades de compra. Mas a leitura em tempo real é muito mais complexa. A ansiedade, a dúvida, e a avalanche de más notícias criam o ambiente perfeito para más decisões. É por isso que esta estratégia requer não apenas técnica, mas resiliência emocional.
Ao considerar a compra de ativos em momentos de baixa, prever o ponto com precisão é extremamente desafiador, mesmo para profissionais experientes. A tentativa de sincronizar o mercado pode resultar em perdas de oportunidades significativas, pois os melhores retornos frequentemente ocorrem logo após as maiores quedas.
Investir durante períodos de queda do mercado pode ser uma estratégia eficaz para investidores de longo prazo. No entanto, é fundamental adotar uma abordagem disciplinada e bem fundamentada para mitigar riscos e aumentar as chances de sucesso.

É essencial fazer o processo de compra em baixa, tendo um sistema disciplinado. Isso representa que ele
- Funciona melhor em tendências de alta confirmadas.
- Deve ser acompanhada por gestão de risco e diversificação.
- E, sobretudo, não deve substituir um plano de investimento bem definido.
No fundo, “buy the dip” é uma filosofia de oportunidade e paciência, não de ganância e pressa.
É por isso que esperar pelo dip perfeito pode ser tão perigoso como comprar no topo. A análise de Cautious Charlie, Average Andy e Daring Dave mostra isso:
- Charlie, parou de investir durante as quedas e teve o pior retorno.
- Andy, manteve o plano, ganhou razoavelmente.
- Dave, que investiu o dobro durante as quedas abruptas, teve o maior retorno de todos.
É melhor investir durante a turbulência, mais do que tentar evitá-la. Warren Buffet repete até à exaustão, uma das suas grandes máximas. “O Medo do mercado é o nosso maior aliado. Aqueles que investem apenas quando está instalado o otimismo, acabam a pagar um alto preço”, diz.
Mas quer isto dizer que devemos comprar em qualquer zona, quando há uma queda rápida. A resposta é não!

Avalia a situação financeira da tua conta
Antes de investir durante uma queda do mercado, é crucial avaliar a estabilidade financeira pessoal e a disponibilidade para investir. É bom estar o mais possível em “cash” para ter a liquidez para atacar o mercado. Mas podes não acertar na primeira ou segunda entradas, o mercado pode continuar a cair. Por isso deves:
- Ou fechar a posição de entrada com um stop-loss assumindo uma perda ligeira mas preservando a maior parte desse capital para nova tentativa mais abaixo,
- Ou ter capacidade de suportar perda, garantindo sempre que o valor de margem está garantido na conta de investimento e tens mais capacidade para acumular em níveis mais abaixo
Investir durante quedas de mercado pode oferecer oportunidades valiosas para aumentar retornos a longo prazo. No entanto, é essencial abordares essa estratégia com disciplina, avaliação cuidadosa da sua situação financeira, diversificação adequada e cautela para evitar armadilhas comuns.
Mantem-te informado e busca aconselhamento de modo a navegares com sucesso em períodos de volatilidade do mercado.