Investir em matérias-primas representa uma estratégia interessante se procuras diversificar o portfólio e proteger-te, por exemplo, contra a inflação. Diferente das ações e fundos de investimento, o mercado de “commodities” possui características próprias que exigem uma análise detalhada dos fatores que influenciam os preços e as variáveis de oferta e procura.
O que são matérias-primas?
São produtos básicos que podem ser extraídos, cultivados ou criados, e que servem como base na produção de outros bens mais complexos. A sua principal característica é a intercambialidade, ou seja, uma unidade de commodity de um produtor pode ser trocada por outra unidade de um produtor diferente, sem perder o seu valor intrínseco. Na categoria incluem-se metais preciosos, produtos agrícolas e energia.
Tipos de matérias-primas
As commodities podem ser agrupadas em várias categorias, de acordo com a natureza do produto e o setor em que são utilizadas. As principais são:
- Metais: Ouro, prata, cobre, platina.
- Energia: Petróleo bruto, gás natural, gasolina.
- Agrícolas: Milho, trigo, soja, café, açúcar.
- Gado e Carne: Gado vivo, suínos magros.
- Soft Commodities: Algodão, cacau.
Um ponto interessante sobre as commodities, é a sua tendência de se mover em muitas situações em direções opostas ao mercado de ações. Em períodos de volatilidade nos mercados financeiros, as commodities podem valorizar-se, enquanto as ações podem cair, proporcionando uma oportunidade de diversificação de portfólio.

Porque investir em commodities?
O principal atrativo para optar por matérias-primas está na expectativa de movimentos significativos nos preços destes ativos. Como em qualquer outro mercado financeiro, abrir uma posição longa (compra) e lucrar com a valorização do preço é uma estratégia comum. Além disso, as commodities oferecem características que as tornam especialmente atraentes:
- Movimentos de Preço Significativos:
- Por exemplo, entre 2020 e 2022, o preço do cobre subiu 156% com a retomada económica pós-pandemia.
- O preço do níquel aumentou 250% em março de 2022 devido a eventos geopolíticos que afetaram o fornecimento.
- Baixa Correlação com Ações:
- A correlação inversa entre commodities e ações permite a diversificação eficaz como acima referido, especialmente em períodos de crise econômica.
- Proteção Contra a Inflação:
- As commodities, especialmente os metais preciosos e o petróleo, são frequentemente vistas como uma proteção contra a inflação, pois o seu valor tende a subir quando o poder de compra da moeda diminui.
Como negociar
Existem vários modos de negociar commodities, cada uma com as suas vantagens e desvantagens. As principais opções incluem:
- Contratos por Diferença (CFDs):
- É a forma prática de negociar commodities como petróleo e café sem precisar de adquirir o ativo subjacente. O CFD permite também a venda a descoberto (vulgarmente conhecida como “shortar”), possibilitando lucros com a queda dos preços.
- Ações de Empresas Ligadas ao Setor:
- Investir em ações de empresas que dependem do preço dessas matérias-primas como petrolíferas ou minas de exploração de ouro, pode ser uma forma indireta de ganhar exposição ao mercado de commodities. Porém atenção porque a relação pode não ser tão direta, já que entram em linha de conta outras variáveis específicas de cada empresa, que não da matéria prima base.
- ETFs de Commodities:
- Os ETFs, como o iShares Silver Trust (Prata), a United States Oil Fund (USO) para petróleo, a SPDR Gold (GLD) para ouro por exemplo, replicam diretamente o preço das commodities, enquanto outros, como o Global X Uranium, investem em empresas ligadas ao setor.

Fatores que influenciam os preços das matérias-primas
Os preços das commodities são principalmente moldados pela oferta e procura, mas outros fatores externos também têm grande impacto:
- Taxas de Juros e Inflação: A elevação das taxas de juros pode enfraquecer a procura por commodities, enquanto a inflação costuma impulsionar os seus preços.
- Choques de Oferta: A interrupção na oferta devido a guerras, desastres naturais ou crises políticas pode afetar drasticamente os preços.
- Ciclos de Produção: Muitas commodities, como o petróleo e os produtos agrícolas, possuem ciclos de produção longos, o que pode criar uma escassez temporária e elevar os preços. O mesmo acontece frequentemente com produtos agrícolas, onde condicionantes climáticos têm muita influência.
Diferenças entre commodities hard e soft
As commodities podem ser divididas em dois tipos principais, com características e volatilidades distintas:
- Hard Commodities:
- São recursos naturais como metais (ouro, cobre) e energia (petróleo, gás natural) que são extraídos ou minerados.
- Soft Commodities:
- Refere-se a produtos agrícolas e pecuários que dependem do cultivo ou criação. Exemplos incluem trigo, milho, soja, gado e café. As soft commodities tendem a ser mais voláteis devido a fatores como clima e saúde animal.

Vantagens da negociação
Investir no mercado de commodities apresenta diversas vantagens:
- Alavancagem:
- Nos contratos futuros, os traders podem operar com uma margem, o que significa que é possível controlar uma posição maior com um investimento inicial reduzido. Por exemplo, um aumento de 20% no preço de um contrato futuro pode gerar um retorno superior a 200%.
- Baixos Custos:
- Em comparação com a compra direta de ações, os custos de negociação de futuros geralmente são mais baixos, o que pode tornar a operação mais acessível.
- Diversificação Simples:
- Existem contratos futuros disponíveis para quase todos os setores económicos, desde agricultura até à energia, o que facilita a diversificação do portfólio.
- Venda a Descoberto Facilitada:
- A possibilidade de vender a descoberto permite que os investidores lucrem com a queda dos preços, algo mais difícil de realizar no mercado de ações.
Conclusão
Investir em commodities é uma excelente maneira de diversificar o portfólio, proteger contra a inflação e aproveitar movimentos de preços significativos no mercado global. Embora seja um mercado volátil e arriscado, se compreenderes as dinâmicas de oferta e procura e utilizares as ferramentas adequadas, como CFDs e ETFs, podes ter sucesso e obter lucros consistentes. No entanto, é fundamental manter uma boa gestão de risco e estar atento aos fatores que influenciam os preços, como os eventos geopolíticos e as flutuações econômicas globais.
Nota para 2025
No final deste artigo uma nota genérica referende a 2025 e para a negociação das “commodities”. As movimentações dos preços em 2025 poderão ser influenciadas por diversos fatores, incluindo políticas económicas de líderes mundiais e decisões dos bancos centrais. A adoção de tarifas de importação mais rigorosas prometidas por Donald Trump antes da chegada à Casa Branca ou alterações nas taxas de juro nos Estados Unidos que podem decorrer de um súbito novo aumento da inflação, podem fortalecer o dólar e criar flutuações significativas nos preços de metais preciosos e fontes de energia. Se estas medidas resultarem na diminuição da procura global, os mercados de commodities poderão enfrentar períodos de alta volatilidade, com possíveis repercussões também nos mercados acionistas. Além disso, as tensões geopolíticas podem agravar mais o cenário, limitando ainda mais o crescimento económico em algumas regiões estratégicas.
Adicionalmente, a inflação poderá levar os bancos centrais a manterem políticas monetárias mais restritivas, dificultando a atração de novos investimentos. Este contexto de incerteza económica exigirá uma atenção redobrada dos investidores, sobretudo no primeiro semestre do ano, pois os mercados poderão enfrentar turbulências que se assemelham a uma recessão, caso os desafios globais não sejam enfrentados de forma eficaz. A vigilância será essencial para navegar um panorama em que os preços das commodities continuam a refletir tanto a dinâmica interna dos mercados como os impactos de fatores externos complexos.