The Trading Ring

Inflação, Tecnologia e Tensões Comerciais

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Será que finalmente os mercados vão começar a corrigir? E o que esperar dessa correção para quem tem investimentos ativos e a prosperar? Nos últimos nove meses a Inteligência Artificial foi a alavanca da subida dos índices principais de mercado. A verdade é que foram as mais importantes empresas do mundo, Apple, Microsoft e Nvidia que estiveram nessa posição. Um velho ditado popular no trading dizia “vende em maio e vai de férias”. Não é mais assim. Mas deve-se entender que estão reunidas condições para que o tão adiado período de correção possa ocorrer. Que indicadores económicos e eventos podem moldar os mercados financeiros?

 

1. Inflação nos EUA

O índice de preços de consumo pessoal (PCE), o indicador favorito do FED para medir a inflação, é divulgado no final desta semana. É crucial para determinar se a desaceleração incipiente da inflação se mantém. Nos últimos meses, as leituras do PCE não têm seguido as expectativas, com a leitura mais recente a mostrar que a inflação nos EUA permaneceu estável em abril, surpreendendo muitos analistas. Se o próximo relatório também indicar manutenção ou aumento inesperado de inflação, isso mina o argumento de que cortes nas taxas de juros estão próximos. Enquanto a FED permanece cautelosa, os mercados ainda esperam por dois cortes nas taxas de juros este ano.

Outros dados económicos a serem observados incluem a confiança do consumidor em junho, bem como dados de vendas de casas novas e existentes em maio.

 

2. Alta nas Ações de Tecnologia: Sinais de Exaustão?

As ações de tecnologia têm mostrado desempenho robusto, impulsionadas por fortes ganhos e entusiasmo em torno da inteligência artificial (IA). No entanto, ganhos de preço substanciais, como os 155% da Nvidia no acumulado do ano, levantam preocupações de que a subida é demasiada. Acima de tudo muito rápida. Uma correção poderá chegar agora? Os indicadores deixam antever que sim. Mas a verdade é que todas as anteriores potenciais oportunidades de correção não vingaram, sendo compradas e suportadas. Nunca se deve dar como certo nenhum movimento de mercado antes dos indicadores validarem a confirmação.

Mesmo que ocorra uma correção, há poucos sinais de que os investidores abandonarão as ações de tecnologia e crescimento por muito tempo. Apostar contra a tecnologia tem sido uma estratégia perdedora na última década.

 

3. Preços do Petróleo

Os preços do petróleo ressaltaram nas últimas duas semanas (7%) depois de uma grande correção anterior. Há preocupações de que o crescimento da procura global de petróleo possa ser prejudicada por um dólar forte como nas últimas semanas se viveu. O dólar subiu para um máximo de sete semanas com a abordagem paciente da FED em relação ao corte das taxas de juros a contrastar com posições mais “dovish”, voltadas para o estímulo económico, de outros bancos centrais.

Taxas de juros mais baixas podem apoiar os preços do petróleo, que têm sido arrastados este ano por uma procura global fraca. Um corte nas taxas de juros nos EUA aumentará o apetite por petróleo à medida que a produção cresce. Os preços do petróleo também dependem muito do prémio de risco geopolítico.

 

4. Inflação na Zona do Euro

Na zona do euro, França, Itália e Espanha divulgam dados preliminares de inflação de junho na sexta-feira. Os dados definirão o tom para um índice de preços ao consumidor da zona do euro na semana seguinte, crucial para avaliar quantas vezes o Banco Central Europeu cortará as taxas este ano. O BCE cortou as taxas em 6 de junho, mas a inflação doméstica ainda forte e os salários elevados levantaram questões sobre quantos mais cortes se seguirão. Os traders esperam mais um corte e uma chance de aproximadamente 64% de um segundo corte até ao final do ano. Antes da mais recente reunião da FED,  o mercado dava a essa possibilidade 80% de chances de acontecer. 

As eleições em França, onde a extrema direita deverá assumir responsabilidades governativas, enviará também nas próximas semanas sinais ao mercado, lembrando que a sua vitória nas eleições europeias e a marcação de eleições levou a perdas significativas nas ações em Paris, arrastando os índices europeus para um momento de pressão em junho.

 

5. Tensões Comerciais

China e União Europeia concordaram em iniciar negociações sobre a imposição planeada de tarifas sobre veículos elétricos (EVs) fabricados na China e importados para o mercado europeu. No início deste mês, Bruxelas propôs tarifas pesadas para combater o que a União Europeia considera serem subsídios excessivos. As tarifas provisórias da UE de até 38,1% sobre EVs chineses importados devem entrar em vigor até 4 de julho, antes de entrarem em pleno efeito em novembro.

Os Estados Unidos aumentaram as tarifas sobre carros chineses em maio e tal traduz-se numa nova frente na guerra comercial do Ocidente com Pequim. As autoridades chinesas insinuaram possíveis medidas retaliatórias. Esta tensão é um fator que acrescenta tensão global e que pode ajudar a que os ganhos consistentes dos últimos meses vejam por fim, uma nova fase de retração.

 

Conclusão

Os mercados financeiros globais estão num ponto crucial, com vários fatores que podem influenciar significativamente a direção do mercado nas próximas semanas. A inflação nos EUA e na zona do euro, a possível correção nas ações de tecnologia, os preços do petróleo e as tensões comerciais são todos elementos que merecem atenção constante.

Independentemente das opções de investimento que tenhas em cada momento, deves perceber o cenário macro envolvente, pois ele determina as movimentações mais prováveis. Quando um barco à vela sai do porto, é necessário reconhecer o modo como o vento sopra de modo a tirar melhor partido das condições existentes para a viagem. Adaptar estratégias de negociação às dinâmicas é crucial para alcançar os melhores resultados e maximizar os lucros.


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