A especulação financeira sempre foi uma prática dos mercados. Com o surgimento das criptomoedas, essa prática atingiu novos patamares de complexidade e volatilidade. Neste artigo exploro brevemente o modo como a MicroStrategy tem agressivamente adotado estratégias de investimento em Bitcoin e como essas estratégias impactam não apenas não apenas os seus próprios resultados, mas também o mercado financeiro global.
A Macro Estratégia da MicroStrategy
Michael J. Saylor, Sanju Bansal e Thomas Sparr, fundaram a MicroStrategy em 1989. A empresa posicionou-se no desenvolvimento de software de análise empresarial e mobilidade. Suporta dashboards interativos, relatórios detalhados, consultas ad hoc e integração com o Microsoft Office, oferece suporte para BI móvel e liga-se a diversos tipos de dados, incluindo big data e redes sociais. A sua missão é tornar cada empresa mais inteligente.
Durante a pandemia, a empresa migrou totalmente para o virtual, aumentando a sua eficiência e recursos para pesquisa e desenvolvimento. Mas além disso, tornou-se o maior detentor corporativo de ativos digitais, principalmente Bitcoin, adotando estratégias de compra agressiva da criptomoeda que é locomotiva de todo o mercado de ativos digitais.
Como é que a MicroStrategy atua? Ela usa empréstimos em dólares para comprar mais Bitcoins, aproveitando baixas taxas de juros para alavancar os seus investimentos. É uma estratégia que pode ser vista como uma forma de especulação financeira, que busca maximizar ganhos com a valorização do Bitcoin.
Ao investir em Bitcoin, a MicroStrategy está diversificando o seu portfólio de ativos e protegendo-se contra a inflação e a desvalorização do dólar.
O seu procedimento atrai a atenção de outros investidores institucionais para o mercado. Representa uma abordagem inovadora e arrojada no mundo dos negócios, de modo gerar retornos significativos para a empresa e os seus acionistas.
E a estratégia da Tether
A Tether também está a comprar Bitcoin em grande escala e usa uma percentagem dos seus astronómicos lucros de operação para essa compra. Há poucas semanas (Abril de 2024) totalizava 75.000 Bitcoins em sua posse.
A Tether pode tornar-se a empresa mais lucrativa do mundo, com lucros de biliões de dólares provenientes principalmente dos juros de títulos do Tesouro dos EUA. Ela usa uma parte dos juros ganhos nos títulos do Tesouro para comprar Bitcoin, e isso é esperado para continuar à medida que o mercado de stablecoins continuar a crescer. A Tether é vista como mais um exemplo do crescente interesse e participação de instituições e empresas no mercado de Bitcoin.
Impacto no Mercado financeiro
O aumento da compra de Bitcoin por parte da MicroStrategy e da Tether que com outra estratégia também tem investido em criptomoeda, tem impactado significativamente o mercado financeiro global. A pressão sobre o dólar dos EUA tem levado a Federal Reserve a imprimir mais dólares para comprar títulos, o que por sua vez aumenta ainda mais o preço do Bitcoin.
Embora essas estratégias possam gerar lucros consideráveis, é importante destacar os riscos envolvidos. Sendo um mercado altamente volátil e sujeito a flutuações imprevisíveis, os investidores devem estar cientes dos riscos antes de embarcar em qualquer forma de especulação financeira.
Abaixo está a flutuação do preço das ações da MicroStrategy associado nos últimos meses à mais recente evolução do preço do Bitcoin.
Impacto no Mercado Financeiro
Empresas como a MicroStrategy usam empréstimos em dólares para comprar mais Bitcoin, aumentando ainda mais a pressão sobre o dólar. Para defender a moeda contra esse tipo de ataque, o Fed teria que aumentar as taxas de juros acima da taxa de crescimento anual composta do Bitcoin.
Muitas pessoas já são investidoras alavancadas em Bitcoin, utilizando empréstimos para investir na criptomoeda. Isso acontece porque, muitas vezes, o custo do empréstimo é menor do que o potencial de lucro esperado com o Bitcoin.
Os cheques de apoio durante a pandemia Covid foram usados para comprar Bitcoin e isso representou um ataque especulativo ao dólar. E na América há também quem faça empréstimos supostamente para casas ou carros, para investir em Bitcoin.
Escusado será dizer que se tratam a nível individual de estratégias no mínimo duvidosas, para já não dizer perigosas. Uma flutuação pontual ou uma volatilidade que sempre pode acontecer ao nível dos investidores de retalho, pequenos, pode trazer perdas irrecuperáveis.
Já quanto a Michael Saylor, a estratégia musculada da sua empresa é elogiada pela capacidade de levantar dinheiro tanto no mercado de ações quanto no mercado de títulos, especialmente através de uma dívida conversível. Uma jogada genial para permitir que quem compra MicroStrategy está na prática a comprar Bitcoin.
Saylor alterna entre emissão de ações e emissão de dívida, conforme as condições de mercado e do prémio das ações em relação ao valor dos ativos em Bitcoin, uma forma de otimizar a quantidade de Bitcoins por ação, em vez de otimizar o preço das ações em dólares.
Considerações Finais
O caso da MicroStrategy ilustra a crescente tendência de empresas e instituições financeiras em adotar estratégias agressivas de investimento em Bitcoin e outras criptomoedas. Especula-se (porque ninguém sabe oficialmente os valores) que Estados começaram a comprar progressivamente Bitcoin. O caso de El Salvador é público, mas governos de grandes países como a China ou os próprios Estados Unidos, começaram a virar-se para o Bitcoin como até aqui olhavam o Ouro. Como um protetor de riqueza. Com o tempo, inflações e progressiva desvalorização das moedas fiduciárias, permitem avaliar o Bitcoin que terá no limite um limite de 21 milhões de moedas no mundo, como um bem escasso e que permitirá a sua valorização ao longo do tempo.
No entanto, é importante entender que essas estratégias também apresentam riscos significativos e a decisão de investimento deve ser tomada com responsabilidade, após uma análise cuidadosa do mercado.
