O mercado de ouro, ao longo dos tempos, tem servido como um termómetro confiável para a saúde económica global, destacando-se como ativo de refúgio em tempos de incerteza. A evolução recente do ouro, o seu desempenho no cenário económico atual, permite explorar a sua perspetiva futura.
A recente quebra do limiar de 2070 dólares é mais do que uma mera quebra de recorde. Representa uma resposta multifacetada a condições macroeconómicas e geopolíticas. Isto acontece perante um cenário onde as criptomoedas cavalgam preços cada vez mais altos e garantem hoje retornos mais suculentos, numa dinâmica que se entende entre ativos tradicionais e emergentes. O ouro, tradicionalmente visto como uma reserva de valor, enfrenta desafios de perceção no mundo dominado por narrativas de criptoativos.
Bancos Centrais e Mais Valias a comprar Ouro
Para quem investir em ouro, saiba que o comportamento do seu preço é barómetro importante. A análise histórica revela que o ouro, em diversas ocasiões, agiu como precursor de mudanças significativas no panorama económico. A quebra de resistências históricas do ouro, muitas vezes precedeu períodos de valorização de outros ativos, proporcionando insights valiosos para investidores atentos.
O comum dos investidores tem hoje no mercado investimentos mais “sexys” para tentar obter os seus ganhos. Mas as locomotivas que movimentam o valor do Ouro são estruturas mais centrais no sistema e é precisamente por isso que se diz que o movimento do valor do Ouro é mais representativo do que a maioria dos outros ativos. Os Bancos Centrais, como é o caso do Banco da China nos últimos meses, são responsáveis pela movimentação.
A China tem acumulado ouro em quantidades substanciais e tal suscita questões sobre as estratégias de diversificação. Quando os grandes jogadores, como um país ou um banco central, estão comprando ouro, isso chama a atenção. Não é só a China, muitos bancos centrais ao redor do mundo andam a comprar ouro como loucos, mas a China comprou mais de 12 toneladas de ouro no último trimestre, isso é massivo. A economia chinesa arrefeceu como sabemos. Eles estão a imprimir dinheiro para manter o motor a funcionar como podem. E como sempre acontece (Portugal acumulou muito ouro durante muitos anos do século passado como contraponto à desvalorização do escudo), é porque eles querem apoiar as suas impressoras de dinheiro. Se continuarem a comprar ouro, estão a manter o valor lá. Sim, haverá recuos, assim como na Bitcoin. Mas a tendência será de subida progressiva.
Outro dos motivos que parece suportar a subida do Ouro é o facto do S&P500 e o Nasdaq estarem a operar em valores máximos depois de uma longa e incrível subida desde Novembro passado. O dinheiro de mais valias dos grandes investidores começa a rolar para outros ativos, sendo que o Ouro é um bom destino para parte desse dinheiro. É um ótimo destino de segurança, estacionar o dinheiro ali, a caminho das eleições americanas no final de 2024.
O Ouro em anos eleitorais na América
O comportamento do dólar nos anos eleitorais nos Estados Unidos tem sido historicamente influenciado pela mudança de liderança e implicações nas políticas fiscais. Mas a análise histórica revela que não existe uma relação direta entre o preço do Ouro e o vencedor para a Casa Branca. O ouro enfrentou desafios sob a presidência de Clinton, atingiu recordes em 2011 com Obama, com resultados igualmente diversos com presidentes republicanos. As eleições de 2020 não podem ser alocadas sequer a quem estava no poder à época porque a pandemia de COVID-19 tornou essa época muito específica.
Porém desde 1980 há padrões interessantes comuns a observar. O metal geralmente inicia o ano em alta, atingindo o pico no segundo semestre, para depois declinar em novembro, altura em que ocorrem as eleições.
1980 – Ronald Reagan (R), o ouro atingiu 850 dólares em janeiro, a FED queria conter a inflação. Em 1981 o valor do dólar foi para próximo dos 600 dólares.
1992 – Bill Clinton (D), o ouro manteve-se acima de 350 dólares até março, enfraquecendo após a eleição de Clinton com uma mínima de 332 dólares pouco após a eleição.
2008 – Barack Obama (D), o ouro alta acima de 1000 dólares em março devido à crise da habitação, caindo para 712 dólares após a eleição e recuperando ao longo do ano para fechar em 882 dólares.
2016 – Donald Trump (R), o início do ano foi abaixo dos 1100 dólares, atingindo 1366 dólares em julho e caindo para 1148 dólares após a eleição de Trump.
Ouro, espelho do mundo
E investir em ouro quando podemos ter um período de recessão pela frente? É algo que muitos analistas continuam a insistir. Se isso acontecer, normalmente o que acontece é que o ouro realmente tem uma grande queda, mas depois recupera muito mais rápido do que os ativos de risco, porque esses têm de esperar auxílio de primeiros socorros para respirar. Para estimular a economia aumenta-se oferta de dinheiro e reduzem-se as taxas de juros, com o objetivo de impulsionar o investimento, o consumo e a atividade económica como um todo.
A incerteza sobre se o ouro continuará a representar o mesmo papel em futuros cenários de crise, parece assim provável. O investimento dos países e dos seus bancos centrais na matéria prima deixa essa convicção. A análise histórica revela padrões de recuperação do ouro após quedas abruptas, sugerindo a sua utilidade como reserva de valor em períodos turbulentos.
O ouro, ao atingir novas máximas, deixa-nos a mensagem de sempre perante as políticas monetárias globais e os riscos percebidos. A preocupação com políticas monetárias que podem em breve voltar a aliviar juros e com restrições mais leves do que neste último ano e meio, além do ambiente político e militar tenso a nível global, contribuem como fundamentais na análise.
Num ambiente económico cada vez mais intrincado, o ouro emerge ainda e sempre como ativo indicador, reserva de valor e resposta a dinâmicas globais de política monetária. A evolução do ouro nas suas tendências recentes, reflete facilmente o que temos assistido no quotidiano dos últimos meses.
Nota: Este artigo fornece uma análise lógica e informada, mas não deve ser considerado como aconselhamento financeiro. Investimento em ouro ou outro qualquer ativo financeiro, requerem análises mais detalhadas e com outros fatores não refletidos neste artigo.