É uma gíria corrente. Ganhar Cacau, significa, ganhar dinheiro. E dinheiro gera dinheiro, é a base do crescimento de portfólios, de juros e dividendos. Mas o que passou fora do radar de muitos foi a subida na vertical que o preço do cacau teve desde 2023 e em particular no primeiro trimestre de 2024. É o centro das atenções, rivalizando com o frenesim habitual com algumas tecnológicas e no mercado das criptomoedas. É uma bolha que acabará, como todas, por rebentar.
Se ficaste surpreendido com esta ascensão extraordinária no preço do cacau, agora na marca histórica de mais de 10.000 dólares por tonelada, vou deixar-te os motivos e tentar decifrar até onde este momento pode continuar. Não é a primeira vez que uma matéria-prima experimenta uma valorização quase vertical. Ouro, Prata, Petróleo e muitas outras já tiveram momentos épicos no passado.
Os porquês do cacau no espaço
Antes de entender o boom do cacau é crucial compreender os fatores que impulsionam o mercado e como ele se compara a outras bolhas ou subidas acentuadas de matérias-primas no passado.
O preço do cacau disparou, levando já mais de 130% este ano, impulsionado por uma série de eventos em regiões produtoras de cacau na África Ocidental, especialmente na Costa do Marfim e no Gana. Condições meteorológicas adversas, como chuvas intensas e secas prolongadas, juntamente com doenças que afetam as plantações, reduziram drasticamente a oferta global de cacau.
Esses países são responsáveis por cerca de 70% da produção mundial de cacau, tornando qualquer alteração na sua produção um catalisador significativo para o mercado global. A redução de 28% e 35% nas chegadas aos portos na Costa do Marfim e Gana, respetivamente, desde o início da temporada acentuou ainda mais a escassez.
Este é um fator universal na subida ou descida dos preços de uma matéria prima. Menos disponibilidade, maior o preço. Lei da oferta e procura a funcionar organicamente.
Impactos e ramificações para os consumidores
O aumento exponencial no preço do cacau coloca em apuros as empresas do setor de chocolate, como a Hershey ou a Nestlé, para citar algumas. Elas passam a enfrentar forte pressão nas suas margens de lucro.
O mais provável é que elas repassem os custos mais altos da matéria prima para os consumidores, através de preços mais altos ou redução no tamanho dos produtos. conhecido como “shrinkflation”, é uma estratégia comum para mitigar os aumentos de custos sem aumentar os preços visíveis. Com a Páscoa a aproximar-se, período de consumo elevado de chocolate, os consumidores irão perceber isso na bolsa.

Perspetivas Futuras e Lições Aprendidas
Ao navegar pela vertigem dos preços em alta como os deste episódio, é crucial sempre reconhecer as lições aprendidas com bolhas anteriores. A história ensina que esses fenómenos são frequentemente acompanhados por uma dose considerável de especulação e podem ser insustentáveis a longo prazo. Quem não entrou antes e antecipou este movimento desde cedo, corre muitos riscos entrando agora. O FOMO (Fear Of Missing Out) sai caro e em matérias primas até pode sair mais caro assumindo que opções e alavancagens costumam ser muito usadas.
Quando estamos perante movimentos destes relacionados com matérias primas alimentares, questões como segurança alimentar, sustentabilidade e equidade na cadeia de suprimentos ganham destaque e intervenções políticas acontecem, ajudando a progressivamente adequar uma maior normalidade e equilíbrio. O cacau nunca esteve tão alto, pelo que é adequado pensar que mais cedo ou mais tarde virá para valores mais normais, assim estejam encontradas as condições para tal acontecer. Investir em cacau para ter lucro não está na mesma divisão de comprar bitcoin hoje e esperar que daqui a dez anos proporcione uma agradável remuneração.
Conclusão
O atual boom no preço do cacau lembra a volatilidade inerente aos mercados de commodities e a importância de entender os fundamentos subjacentes a esses movimentos de preços. Enquanto os investidores e consumidores monitorizam de perto o desenrolar dos eventos, é fundamental manter uma perspetiva informada e cautelosa. Embora os ganhos astronómicos possam ser emocionantes, a sustentabilidade a longo prazo é a chave para um mercado saudável e equilibrado.