The Trading Ring

Como investir em período de recessão?

Partilha este artigo

A economia mundial dá sinais cada vez mais evidentes de uma recessão iminente no mercado americano. Os principais indicadores económicos apontam para um abrandamento do crescimento com diversas variáveis a confirmarem um cenário de retração. As taxas de juro continuam elevadas, o consumo desacelera e os mercados financeiros refletem incerteza, com oscilações acentuadas nos índices bolsistas.

Os dados mais recentes mostram que a confiança dos consumidores e das empresas continua em queda, refletindo a incerteza económica; O PIB de várias economias desenvolvidas registou crescimento negativo ou estagnação, com os EUA a apresentarem uma contração de 0,4% no último trimestre e a zona euro a crescer apenas 0,1%;

Os mercados financeiros refletem essa incerteza, com o S&P 500 a cair 15% nos últimos seis meses e o índice europeu Stoxx 600 a registar uma perda de 12%.

As políticas disruptivas de Trump levaram a uma antecipação em venda no setor de tecnologia e a reboque, a uma grande queda de ações, potencial mercado de baixa e recessão. Ao mesmo tempo o rendimentos dos títulos de longo prazo caíram, mas não abaixo de 4%, o que sinaliza uma clara advertência de recessão.

A poupança dos consumidores dos EUA esgota-se e o mercado de trabalho está a arrefecer  antes mesmo da implementação total das tarifas ser sentida. O Congresso dos EUA deve aprovar estímulo adicional (~1,2% do PIB) para compensar o impacto económico das tarifas e projeta-se um alívio fiscal antecipado para ajudar consumidores em 2025-26. A Europa (1% do PIB) e a China (3,8% do PIB) respondem com estímulos extra, mas podem não estabilizar o crescimento global.

Os bancos centrais enfrentam um dilema: manter as taxas de juro elevadas para controlar a inflação, ou reduzi-las para estimular a economia. O BCE e a Reserva Federal têm mantido uma postura cautelosa, mas os sinais de arrefecimento económico podem forçá-los a ajustar suas políticas monetárias nos próximos meses.

Como te deves preparar para os próximos tempos de investimento, assumindo que uma recessão vem a caminho?

O que é uma recessão? Como funciona?

Uma recessão é um período de contração económica caracterizado pela queda da produção e do rendimento de um país. Quando o PIB, que representa o valor total de bens e serviços produzidos dentro de um território, apresenta uma redução durante dois trimestres consecutivos, a economia é considerada em recessão.

A economia capitalista opera em ciclos de expansão e contração. Nos períodos de crescimento, há aumento do consumo, do investimento e da produção. Já nas fases de recessão, o contrário acontece: empresas reduzem investimentos, consumidores gastam menos e o desemprego tende a crescer. Embora seja vista como negativa, a recessão é um fenómeno natural da economia e pode ser necessária para corrigir excessos anteriores.

O PIB é formado por diversos componentes, incluindo consumo, investimento, gastos governamentais, exportações e importações. Quando um ou mais desses elementos sofrem uma queda significativa, a economia pode entrar em recessão. Um dos principais fatores para o início desse ciclo negativo é a redução no consumo das famílias.

Se os consumidores gastam menos, as empresas vendem menos e podem precisar cortar custos, resultando em demissões e redução salarial. Esse efeito cascata intensifica ainda mais a retração económica. Da mesma forma, a queda nos investimentos por parte das empresas impacta a produção e a inovação, retardando a recuperação económica.

Impacto nas ações e mercados financeiros

O S&P 500 pode ter muitas dificuldades durante uma crise económica. O mercado caiu 11,2%, 37,9% e 8,2%, respetivamente, durante as últimas três recessões.

Nove ações do S&P 500, incluindo a Walmart (WMT), J.M. Smucker (SJM) e Ball (BALL), apresentam um desempenho superior durante as recessões, refere uma análise do Investor’s Business Daily de dados do S&P Global Market Intelligence e MarketSurge. Ganharam uma média de 20% ou mais durante as recessões.

Em 16 das 31 recessões que atingiram os EUA desde a Guerra Civil, os retornos do mercado bolsista foram positivos. Nos outros 15 casos, os retornos foram negativos. Por exemplo, o S&P 500 subiu, na realidade, 4,8% na recessão de 1990 e quase 7% na recessão de 1981. Excluindo a recessão induzida pela pandemia de 2020, a correlação entre os retornos do mercado bolsista dos EUA e as variações do PIB é próxima de zero.

Em média, o mercado bolsista dos EUA atinge o seu pico cinco meses antes do início de uma recessão. Em 2020, o mercado atingiu o pico a 19 de fevereiro, nove dias antes do início oficial da recessão. Quanto tempo costumam durar as recessões com retornos negativos de mercado? As 15 recessões com retornos negativos duraram 17 meses em média, com um retorno acumulado anualizado de -14,8% e um declínio médio do PIB de -4,6%. A Grande Depressão, de agosto de 1929 a março de 1933, com uma duração de 43 meses, teve um retorno total das ações norte-americanas de -73,6% e foi a pior crise económica alguma vez registada.

Durante uma recessão, os mercados financeiros enfrentam momentos de alta volatilidade. O mercado de ações tende a cair porque os investidores antecipam uma redução nos lucros futuros das empresas. A menor procura por bens e serviços reduz as receitas das companhias, afetando diretamente suas avaliações no mercado.

Setores mais vulneráveis à procura, como o retalho e a indústria automobilística, sofrem quedas acentuadas. Algumas empresas podem enfrentar dificuldades financeiras graves, levando a falências, o que agrava ainda mais a crise.

Um fator que pode mitigar os impactos de uma recessão é a desvalorização cambial. Se a moeda de um país perde valor, os produtos exportados tornam-se mais baratos e competitivos no mercado internacional, beneficiando empresas exportadoras.

O passado das recessões e as lições aprendidas

A história mostra que recessões fazem parte dos ciclos económicos e, apesar do impacto negativo no curto prazo, apresentam oportunidades para investidores atentos.

  • Crise do Petróleo (1973-1975): A escassez de petróleo e o aumento dos preços levaram a uma recessão global. No entanto, quem investiu em energia e commodities conseguiu proteger seu capital e até obter bons retornos.
  • Bolha da Internet (2000-2002): O colapso das empresas de tecnologia levou a grandes perdas para investidores que apostaram cegamente em startups sobrevalorizadas. No final dos anos 90, os mercados disparavam e parecia que qualquer investimento em tecnologia se traduzia em lucros fáceis. Contudo, em poucos meses, a realidade mudou. Posições que pareciam promissoras evaporarem e aprendi da pior forma que não se pode investir apenas com base no otimismo do mercado. No entanto, empresas como Amazon e Google emergiram mais fortes e transformaram-se em gigantes do mercado.
  • Crise de 2008: Provocada pelo colapso do mercado imobiliário e a falência do Lehman Brothers, esta recessão foi uma das piores da história moderna. Os mercados perderam mais de 50% do seu valor, mas quem comprou ações perto do fundo viu retornos significativos nos anos seguintes. (imagem abaixo)
Tipos de ações em recessões

As ações das empresas podem ser classificadas em dois grupos principais durante uma recessão:

  • Ações cíclicas: Dependem do crescimento económico para obter bons resultados. Setores como aviação, turismo, bancos e retalho são altamente sensíveis a crises e tendem a sofrer mais durante uma recessão.
  • Ações defensivas: Empresas que oferecem produtos essenciais, como serviços de eletricidade, água, supermercados e saúde, tendem a ser mais resilientes, pois a procura por esses serviços permanece estável independentemente do ciclo económico. 
Estratégias de investimento durante recessões

Compreender o funcionamento das recessões e seus impactos no mercado financeiro é essencial para tomar decisões de investimento mais informadas. A adoção de uma estratégia equilibrada e a gestão cuidadosa do risco são fundamentais para atravessar períodos económicos desafiadores com maior segurança financeira.

Não é possível prever recessões com precisão, por isso é essencial adotar estratégias de proteção e gestão de risco. Algumas das principais abordagens incluem:

  • Investir em ativos de refúgio: Ouro, títulos do governo dos EUA e moedas fortes tendem a ser boas opções em tempos de crise.
  • Escolher empresas resilientes: Companhias com fluxo de caixa estável e histórico de pagamento de dividendos geralmente superam o desempenho de empresas mais arriscadas.
  • Atenção a Empresas Sobreendividadas – Evitar ações de empresas com balanços frágeis é essencial, pois os juros elevados aumentam a pressão sobre negócios com muitas dívidas.
  • Aposta em Ativos Defensivos – Setores como saúde, bens de consumo essenciais e utilities tendem a ser menos afetados por crises económicas. Grandes empresas de alimentação e farmácia mantêm receitas estáveis mesmo em tempos difíceis.
  • Fundos globais: Investir em ativos diversificados globalmente pode reduzir o impacto de recessões locais e oferecer maior proteção.
  • Manter diversificação: Distribuir investimentos entre diferentes classes de ativos e regiões geográficas reduz riscos e melhora a estabilidade da carteira. Usado o Modelo 60/40, com uma carteira equilibrada com 60% de ações e 40% de obrigações é uma estratégia tradicional para mitigar perdas em tempos de crise.
  • As obrigações, especialmente as governamentais, são consideradas investimentos seguros durante recessões. Isso ocorre porque os investidores buscam ativos de menor risco em momentos de incerteza. O preço dos títulos muda de acordo com a taxa de juros, quando as taxas de juros caem, os preços dos títulos sobem e quando as taxas de juros sobem, os preços dos títulos caem. Quando os bancos centrais reduzem as taxas de juros para estimular a economia, os preços das obrigações tendem a subir, proporcionando ganhos aos detentores desses ativos. No entanto, se a recessão vier acompanhada de alta inflação, o valor das obrigações pode ser afetado negativamente.

Liquidez e Gestão de Risco – Manter uma reserva de liquidez permite aproveitar oportunidades de compra quando os preços atingem níveis atrativos. Além disso, utilizar ordens de stop-loss pode limitar perdas em momentos de forte volatilidade. Durante recessões, as avaliações de muitas empresas caem para níveis subvalorizados. Investidores de longo prazo podem encontrar boas oportunidades em ações com fundamentos sólidos.

Investimentos em Dividendos – Empresas sólidas que pagam dividendos regulares oferecem uma fonte de rendimento passivo durante períodos turbulentos, ajudando a mitigar a volatilidade do portefólio.

Análise Técnica e Swing Trading – Para quem opera no curto prazo, a análise técnica pode ajudar a identificar tendências e pontos de entrada e saída estratégicos. Estratégias como swing trade permitem capturar movimentos de preço e lucrar mesmo em mercados voláteis.

O Ouro

O ouro historicamente funciona como um ativo de refúgio em tempos de incerteza, mantendo seu valor enquanto outras classes de ativos perdem força. O ouro tem sido, ao longo dos séculos, um dos destinos preferidos nestes cenários. Mas será que investir em ouro durante uma recessão é sempre a melhor escolha? Para responder a esta questão, vamos analisar o comportamento do ouro em crises anteriores, as razões por trás da sua estabilidade e os riscos envolvidos.

Historicamente, o ouro é visto como um refúgio seguro porque tem baixa correlação com as ações, tende a seguir um comportamento inverso ao do mercado acionista. Durante a crise de 2008, enquanto o S&P 500 caiu 37%, o ouro valorizou-se 24%.

O Ouro tem procura constante, independentemente do ciclo económico, continua a ser requisitado por bancos centrais, indústrias tecnológicas e joalheiros. Com a desvalorização de moedas fiduciárias em momentos de crise, o ouro serve como uma proteção contra inflação e perda de poder de compra.

Ouro Sempre Sobe Durante Crises? Nem Sempre

Embora o ouro tenha um histórico de resiliência em momentos turbulentos, há exceções:

  • Oscilações no Curto Prazo: Assim como qualquer ativo, o ouro também sofre correções e pode ter momentos de desvalorização antes de consolidar uma tendência de alta.
  • Impacto das Taxas de Juro: Quando os bancos centrais aumentam as taxas de juro para combater a inflação, o ouro pode perder atratividade, pois não oferece rendimento.
  • Força do Dólar: Como o ouro é cotado em dólares, quando a moeda americana se fortalece, o preço do metal tende a recuar.
Como Investir em Ouro Durante uma Recessão

Existem diversas formas de investir em ouro, cada uma com vantagens e desvantagens:

  1. Compra de Ouro Físico: Moedas e barras podem ser armazenadas como reserva de valor.
  2. ETFs de Ouro: Alternativa para quem deseja exposição ao ouro sem a necessidade de armazená-lo fisicamente.
  3. Contratos Futuros: Para traders experientes, os futuros oferecem oportunidade de alavancagem, mas também aumentam os riscos.
  4. CFDs (Contratos por Diferença): Permitem especulação sobre o preço do ouro sem possuí-lo diretamente.
  5. Diversificação Global – Investir em mercados emergentes ou geografias menos afetadas pela recessão global pode ser uma estratégia de mitigação de risco.
Conclusão

Os sinais de recessão são claros e os investidores devem preparar-se para um período de incerteza. No entanto, crises económicas também representam oportunidades para aqueles que adotam estratégias inteligentes e bem fundamentadas.

Aprender com as lições do passado, manter disciplina na gestão de risco e focar-se em ativos sólidos são passos essenciais para atravessar tempos difíceis e sair fortalecido. Independentemente do cenário económico, o segredo para o sucesso no investimento continua a ser a preparação, a paciência e a capacidade de adaptação às novas condições do mercado.

Nota: Esta análise é baseada em observações passadas e não garante ocorrências futuras no mercado de capitais. Lembra-te de que investimentos sempre envolvem riscos, sendo crucial entender as possíveis consequências de qualquer investimento antes de comprometer fundos. Recomendamos que consultes um consultor financeiro profissional para obter orientação personalizada a partir das tuas circunstâncias individuais e tolerância ao risco. É fundamental exercer cautela e diligência ao interpretar e agir com base em opiniões ou informações relacionadas a investimentos.


Partilha este artigo

Leave a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *