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“Sismo em Wall Street” Tudo o que precisas saber

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Há anos que temos avisado para a longa marcha sem cedências nem correções dos valores das ações. Nunca antecipamos o que vai precipitar as correções, mas uma coisa sabemos. Elas são violentas e quanto maior o período em que não acontecem, mais fortes se tornam. Só não avistamos é o gatilho que as ativa. Desta vez, foi o anúncio de Donald Trump das tarifas comerciais para quase todo o mundo.

6,6 mil milhões de dólares evaporaram do mercado apenas em dois dias. E se o cenário no primeiro dia de queda acentuada tinha marcado o pior dia desde 16 de março de 2020, quando o mundo ficou em confinamento por conta da Covid, no dia imediatamente seguinte a China respondeu com tarifas no exato valor de 34% sobre produtos dos EUA, intensificando a guerra comercial.

Resultado, foi o maior valor somado de perdas por dois dias consecutivos na história de Wall Street. E o índice Nasdaq entrou oficialmente em bear market, isto é, perdendo mais de 20% em relação ao seu máximo, 10% apenas na última semana.

O S&P500 ficou muito próximo desse valor, tendo perdido 9 % na semana. O índice Russell 2000, das small caps, afundou 9,70%.

Os fundos de hedge enfrentaram chamadas de margem substanciais, levando à liquidação de ativos no valor de mais de 40 mil milhões de dólares, o que resulta em perdas substanciais.

Os próximos níveis de suporte do SP500 estão nas áreas assinaladas no gráfico acima. A queda desde os máximos levou o índice até ao ponto A, no dia 4 de abril de 2025. A posição identificada como B pode ser o ponto de partida do dia 7 de abril, mas se os mercados se precipitarem mais e o pânico for acionado, os niveis C e D são provavelmente os de maior probabilidade de suporte seguinte.

O Índice de Volatilidade disparou

Depois de dois dias de queda abrupta, a tensão está no máximo com o índice de volatilidade (VIX) em máximos que recentemente apenas têm comparação com o súbito Crash e recuperação no mesmo dia, a 5 de agosto de 2024. Ou com o máximo valor histórico de volatilidade que aconteceu em março de 2020 com a paragem de todo o mundo por força da Covid. O gráfico mais abaixo identifica esse pico no valor do índice de volatilidade.

Agora, muitos analistas apontam para que o mercado está com as condições ideais para assistir a um Crash. Uma “Black Monday”, já a 7 de abril. Pode sim acontecer, na lógica das probabilidades. Pode também não acontecer, pois os valores na 6ª feira fecharam num suporte forte. E se alguma movimentação política acontecer que trave o despiste completo de Wall Street, então é possível um ressalto. Nada como acompanhar com cuidado em tempo real. Caso aconteça, sabe a seguir que circuitos de corte (interrupção) existem em Wall Street que protejam a descida descontrolada dos mercados, mesmo para lá da sua violência natural.

📉 Os “Circuit Breakers” nas bolsas

Os “Circuit breakers” são mecanismos de segurança usados para interromper temporariamente as negociações nas bolsas quando há quedas acentuadas nos preços, para travar o pânico e evitar colapsos descontrolados. Tal como num disjuntor elétrico em casa, que desliga a corrente quando há sobrecarga, o circuit breaker financeiro interrompe o mercado quando há quedas bruscas. Aplicam-se ao mercado, nos seus índices, como a qualquer ação individual, seja em movimentos de subida ou descida abrupta.

📊 Desde fevereiro de 2013, os EUA utilizam 3 níveis de “circuit breakers” com base no índice S&P 500:

  • ⚠️ Nível 1:
    🔽 Queda de 7% em relação ao fecho do dia anterior
    ⏸️ Suspensão das negociações por 15 minutos (exceto se ocorrer depois das 15h25)
  • 🚨 Nível 2:
    🔽 Queda de 13%
    ⏸️ Mais 15 minutos de pausa, se antes das 15h25
  • Nível 3:
    🔻 Queda de 20%
    ⛔ Encerramento completo do mercado até ao final do dia (das 9h30 às 16h00)

📌 Notas Importantes

  • 🔁 O sistema tem sido revisto várias vezes com base em crises anteriores.
  • 🗓️ O primeiro circuit breaker foi implementado após o “Black Monday” a 19 de outubro de 1987, quando o Dow Jones caiu quase 23% num só dia.

Declarações de Jerome Powell e implicações para a política monetária

E nisto, a JPMorgan aumentou para 60% a probabilidade de uma recessão global até ao final do ano, citando políticas comerciais prejudiciais e o declínio do sentimento empresarial. A combinação de tarifas elevadas, crescimento económico desacelerado e inflação crescente apresenta desafios significativos para a economia global.​

O presidente da Fed, Jerome Powell, admitiu que os impactos das tarifas foram superiores ao esperado, elevam o risco de inflação e abrandamento económico, mas defendeu aguardar por mais dados antes de alterar a política monetária. Recorda-se que a Fed manteve a taxa básica de juros entre 4,25% e 4,5%

Na Ásia, o Japão classificou a situação como uma “crise nacional”, após forte queda nas ações bancárias. Na Europa, as bolsas também registaram perdas históricas. A UE reforçou o apelo por negociações, mas mantém divisões internas sobre como reagir às tarifas norte-americanas.

Desempenho do Ouro como Ativo de Refúgio

Em tempos de incerteza económica, o ouro tradicionalmente serve como um porto seguro para os investidores. O valor na última semana manteve-se acima dos 3000 dólares por onça, muito próximo do valor máximo de sempre alcançado há uma semana. Porém, porque teve uma subida muito acentuada recentemente, é natural que haja para breve uma natural correção ligeira no valor. Se admitirmos que a instabilidade se mantenha alta por algum tempo, qualquer retração no valor é uma boa oportunidade para negociar.

Como investir num cenário de incerteza política e tensões comerciais?

A atual conjuntura económica, marcada por disputas comerciais e políticas protecionistas, exige cautela e monitorização constante por parte de quem investe.

📌 As ações de momento ideais são aquelas pertencentes a setores seletivos, que tradicionalmente não são tão voláteis ou resistem historicamente melhor à perda de valor dos ativos em tempos de maior volatilidade. Outra opção será investir em ETFs que ganham valor na medida inversa à desvalorização das ações, ou muito simplesmente “shortar” os mercados e as ações mais expostas, por exemplo, às tarifas.

Da mesma forma, deve-se aguardar ao máximo que empresas fortemente apanhadas nesta correção , mas que fazem parte de indústrias e setores que terão forte expansão na próxima década, como empresas ligadas a setores de inteligência artificial ou à computação quântica, por exemplo, quanto mais desvalorizarem, maior a probabilidade de apanhar a próxima vaga de subida, quando ela começar. Uma coisa todos podem ter a certeza. A história mostra que o mercado, como um todo, sempre, ao longo da história, recuperou e ultrapassou os anteriores máximos. Não sabemos quando, nem o que levará a tal, mas podemos ter a certeza de que, se os mercados desceram até esta altura 20% desde o máximo, um dia eles estarão pelo menos 25% acima do valor à data de hoje. E quanto mais caírem, maior o ganho potencial até a um novo máximo. Os mercados adaptam-se às novas circunstâncias e os ciclos políticos e financeiros sempre acabam por descobrir modelos de criação de valor.

📌 Entretanto, é possível ter abordagens cirúrgicas na Europa e Ásia, em empresas ligadas a investimento público e ações de pequena capitalização. O investimento do governo alemão para reanimar o setor económico pode desempenhar um papel importante. Na Ásia, a China, setores de energia, matérias-primas e inteligência artificial podem proporcionar retornos interessantes no médio e longo prazo.

📌 Num contexto de incerteza global, o ouro tem sido visto como porto seguro para  cobertura contra inflação e choques geopolíticos. As criptomoedas, nomeadamente o Bitcoin, é tido agora também como ativo de reserva de valor, muito embora esteja a demorar o início do Bull Run prometido após do Halving de abril do ano passado. O petróleo, outro ativo defensivo, tem algo que pode condicionar a sua comercialização em valores mais altos. Se os EUA entrarem em recessão, como parece agora cada vez mais provável, haverá uma desaceleração de consumo que pode impactar o preço do barril, mantendo-o em valores até mais baixos do que hoje estão. Porém, o petróleo está sujeito, por norma, a muitos outros fatores geopolíticos, pelo que é muito difícil fazer mais do que no curto prazo uma previsão de tendência.

🔮 Perspetivas para a próxima semana nos mercados globais

A próxima semana será um verdadeiro teste ao nervosismo dos investidores, com os mercados a digerirem este cocktail de fatores que prometem reacender a volatilidade:

Haverá conhecimento dos dados da última reunião da Fed com as declarações de cada um dos governadores, há também os novos dados de inflação nos EUA, há dados do PIB no Reino Unido e começa a época de resultados trimestrais das empresas americanas em Wall Street, a começar logo com os bancos.

A expectativa é de um crescimento de 7,3% nos lucros do S&P 500, o que marca o sétimo trimestre consecutivo de crescimento. Contudo, mais de 60 empresas já emitiram alertas negativos sobre lucros futuros, o que poderá deixar os mercados em sobressalto. Os investidores estarão particularmente atentos ao impacto esperado das tarifas e à resistência do consumo interno.

📣 Frase para o momento:

“Incerteza não é apenas um risco. É também o motivo pelo qual existem oportunidades.”

Aviso: Este blog tem apenas fins educacionais e informativos, não constitui aconselhamento financeiro ou de investimento. Faz sempre a tua própria pesquisa antes de tomares qualquer decisão. Esta é uma análise baseada em observações pessoais e opiniões. A incerteza política e económica pode ter efeitos significativos no mercado de capitais, mas é necessário considerar a amplitude e a gravidade desses eventos para determinar o seu real impacto. Recomendamos que conduzas pesquisa minuciosa. O mercado de capitais é complexo e influenciado por uma ampla gama de fatores, portanto, é importante buscar diversas opiniões de mais especialistas e até profissionais financeiros, antes de tomar decisões de investimento.


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