No turbilhão da economia global com a volatilidade cada vez mais imprevisível, por muito que os momentos de trend pareçam claros, aqui Bull ali Bear, é essencial ter habilidade para navegar as incertezas e desafios dos mercados financeiros. O pequeno investidor deve fazê-lo, percebendo no plano macro as oportunidades de mercado no atual cenário económico. Lembro que neste texto estão definidas sempre orientações, não indicações específicas de investimento.
Os Riscos Macro
Vamos para um período próximo de crescimento económico mais lento em termos mundiais. Estados Unidos, Europa, China e demais mercados, vão ter crescimentos mais curtos nos próximos tempos, se compararmos com os últimos anos. É necessária uma adaptação a esta nova realidade, onde apesar de ser previsível as taxas de juro começarem a diminuir, elas são ainda altas.
O Deutsche Bank por exemplo prevê uma recessão suave nos primeiros seis meses de 2024, com uma redução de 175 pontos-base nas taxas de juros. Jerome Powell, presidente da FED, deixou indicação que a partir de Março a quebra das taxas de juro começará, prevendo três baixas ao longo do ano, até 1% no seu total. Tal pode levar a uma reação dos mercados na tendência desde Novembro, elevando o S&P 500 para os 5.100 pontos. Mas se fosse fácil adivinhar …
Já a JP Morgan considera uma recessão como possível, projetando que o S&P encerre o próximo ano com 4.200 pontos, sensivelmente 10 % abaixo do que se encontra no final de 2023. Será ano de eleições nos EUA e sobre o facto, faço abaixo referência ao que a história nos ensina. Mas nunca esquecer que os Estados Unidos estão sentados numa enorme montanha de dívida e que um dia vai estoirar com consequências que vão abalar o mundo todo, veremos de que modo. Lembro a crise do sub Prime e como abalou o sistema financeiro em 2008. A questão aqui chama-se “dívida de 34 triliões de dólares”, enorme quantia de dívida detida pelo governo dos Estados Unidos contraída ao longo de vários anos, principalmente para financiar guerras, programas sociais e infraestrutura pública. É um dos níveis de dívida mais altos do mundo e uma preocupação significativa para muitos economistas e formuladores de políticas.
Parece consensual que muitas das ações europeias estão subvalorizadas. As dúvidas de crescimento, porém, permanecem nas mãos do motor europeu que está a “gripar”. A Alemanha a lutar com uma recessão mesmo que ténue, pode prender o disparo da economia europeia e tal minará por certo qualquer ótimo desempenho geral.
A Economia do Japão deve na previsão manter a recuperação moderada ao longo de novo ano, embora com alguns riscos de desaceleração no segundo semestre. Após três décadas, a economia japonesa despertou devido a mudanças estruturais demográficas e pressões de mercado. No último ano o Iene enfraqueceu mas a balança comercial positiva e a postura do Banco do Japão podem levar a uma correção em 2024. As ações japonesas tiveram um desempenho positivo em 2023, impulsionadas pela saída da deflação e a atratividade do Japão como alvo de diversificação de investimentos na Ásia. O crescimento liderado por margens deve impulsionar uma valorização rali nas ações japonesas em 2024, com setores como equipamentos de produção de semicondutores, sistemas e aplicativos, imóveis e alimentos posicionados estrategicamente para beneficiar.
A Geopolítica
A mudança de investimentos da China para o Japão destaca preocupações sobre o crescimento chinês e riscos geopolíticos. A estratégia de realocação de ativos recomendada para os investidores, deve ser considerada com base neste princípio. Por outro lado, não se pode esquecer que 2024 entra com cenários em aberto para as duas guerras que marcam a atualidade. A guerra Ucrânia/Rússia e a guerra em Gaza, entre Israel/Hamas que se traduzem em instabilidades óbvias. Por fim, não é displicente o que acontecerá nos EUA pois é ano eleitoral (eleições em novembro) e a incerteza sobre quem se sentará na Casa Branca pode tornar o caminho por 2024 mais sinuoso.
O desempenho histórico do S&P 500 em anos eleitorais revela por norma que até final de maio o índice tende a movimentar-se lateralmente. No entanto, a dinâmica muda significativamente no final do ano, durante o período eleitoral com um movimento ascendente forte até Agosto, seguido de uma queda típica em setembro e outubro.
O período imediatamente antes e depois das eleições também exibe um fenómeno interessante. Nos 10 dias que antecedem e sucedem o dia da eleição, o índice S&P 500 geralmente regista um aumento acentuado. Isso ocorre devido à melhoria no sentimento antes das eleições, impulsionada pela esperança na vitória do candidato preferido e na expectativa de um novo impulso com a chegada da nova administração. Esse otimismo estimula o interesse de compra no mercado de ações.
A diversificação global é vista como uma estratégia valiosa para as carteiras, especialmente à medida que as economias divergem e seguem seus próprios ritmos. Índia e México são escolhas principais em muitas perspetivas, pois ambas as nações emergentes têm catalisadores de suporte a longo prazo. A Índia, com sua demografia robusta e diversidade de setores, oferece grandes perspetivas de crescimento. Será a maior economia do mundo dentro de décadas. E certamente terá ritmos de crescimento dos mais altos no planeta durante os próximos anos. O México a beneficiar da tendência contínua de empresas dos EUA transferirem operações para o outro lado da fronteira, impulsionando o peso do peso mexicano.
Desafios Futuros e Emergentes
A população mundial está a envelhecer. A tecnologia está a disparar exponencialmente. A compreensão destas duas (entre outras) variáveis é decisiva para o sucesso dos investimentos a fazer e para prosperar neste novo ano.
Investir em inteligência artificial (IA) representa uma oportunidade expressiva, sendo um tema comum de investimento para muitas instituições que estão dispostas a serem agressivas. A contínua progressão da IA e sua infraestrutura oferece diversas oportunidades de investimento. A IA evoluirá muito ao longo de 2024 e novas oportunidades surgirão no radar, além do lote já conhecido de empresas na área. Recordo apenas que a IA é em si um tremendo potencial de investimento, mas globalmente as empresas que irão usar a IA terão ganhos, benefícios de alto potencial em termos de produtividade e negócio.
É inevitável abordar o mundo das criptomoedas. Sim, 2023 foi um ano de “regresso” com o Bitcoin naturalmente a ser a locomotiva de mercado. Nunca esquecer que a volatilidade das Criptos pode proporcionar ganhos enormes ou perdas massivas, pelo que as estratégias de risco devem ser sempre privilegiadas, mas aqui ainda mais. A mais recente subida de preços nas criptos, a reboque da Bitcoin, deve ser entendida. Essencialmente a expectativa de que no início de Janeiro o regulador americano aprove as ETFs de Bitcoin, o que levará à entrada substancial de dinheiro de grandes investidores financeiros na negociação, elevando o preço da mãe de todas as criptos. Se é sol de pouca dura o mais recente trend, ver-se-á. Um novo adiamento da decisão poderá levar a uma perda de expectativa. Ou mesmo que a aprovação chegue, pode haver um clássico movimento de fazer mais-valias na hora do sucesso. Tal como o Ouro, as Criptos e algumas outras Commodities terão a ganhar com a descida do valor do dólar, mas é preciso sempre descontar essa desvalorização no ganho.
Um olhar sobre os movimentos históricos do preço do ouro em anos de eleições nos EUA sugere que mais do que ser ano eleitoral, são as condições macroeconómicas desse ano específico que influíram mais na oscilação dos preços. Nesse aspeto, a descida das taxas de juro previstas em 2024, os níveis de endividamento a aumentar, a instabilidade macropolítica e militar no mundo, tenderá a beneficiar mais a subida das commodities no próximo ano do que o contrário. Perante as incertezas e desafios dos mercados financeiros, o ouro pode não ser a pior das opções.