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Regras de Jesse Livermore para sobreviver nos mercados

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Não existiam tais ferramentas como os algoritmos de negociação, nem filmes no YouTube e grupos de seguidores no Telegram ou Discord. Um homem assumiu a fama de trader lendo apenas preço e volume. Tinha nascido em 1877, aprendeu sozinho a operar nas bucket shops de Boston e, mais tarde, shortou o “crash” de 1929 em Wall Street, metendo ao bolso mais de 100 milhões de dólares.

Jesse Livermore construiu e perdeu fortunas e hoje tem um legado que permanece como manual de sobrevivência nos mercados. As suas regras, adaptadas ao contexto moderno, revelam que o sucesso no trading depende menos de previsões e mais de disciplina emocional.

Abaixo, apresentamos 9 princípios fundamentais de Jesse, para o caso de procurares consistência:

1. Baseia a tua opinião com a ação do mercado

O mercado nunca está errado; opiniões, sim. Livermore só entrava numa operação quando o preço confirmava a sua tese. Exemplo: se esperava alta em ações de energia, aguardava rompimento de resistências com volume crescente. “Não confies em análises até que o mercado valide as tuas ideias”.

O mercado é um espelho coletivo das expectativas, medos e informações de todos os participantes. Por exemplo, em 2020, durante a recuperação pós-Covid, muitos traders esperavam uma queda do S&P 500, mas o índice rompeu a resistência de 3.200 pontos com volume 40% acima da média — sinal claro de alta.
Estratégia prática:

  • Usa rompimentos de consolidação como confirmação. Se uma ação está estável nos 50 dólares e salta para 52 dólares com volume duas vezes maior, é um sinal válido.
  • Combina com indicadores como RSI (acima de 50) ou MACD cruzando para cima.
  • Estudo de caso: Em 2023, a NVIDIA subiu 240% após romper 200 dólares com volume recorde, confirmando a tendência de IA. Ignorar a confirmação do mercado leva a operações prematuras. Um relatório da Fidelity mostra que 65% dos traders que antecipam reversões sem confirmação técnica têm prejuízos médios de 12%.

2. Ignora dicas e informações privilegiadas

Dicas são armadilhas. No estudo de Barber e Odean, traders que seguiram “recomendações quentes” tiveram retornos 7% menores ao ano. Livermore operava apenas com base em ação de preço e volume. Ver para crer. Evitar o ruído é uma tática incrível.

  • Em 2021, a GameStop virou um meme stock. Quem comprou no pico de 483 dólares, baseado no hype do Reddit, perdeu 90% em 3 meses. Livermore desconfiava até de relatórios de analistas. Hoje, 83% das recomendações de “compra” do S&P 500 acabam por fazer pior que os índices de mercado, segundo a Bloomberg.
3. Senta-te sobre as mãos quando não há oportunidades

70% dos day traders perdem dinheiro por operar em excesso. Livermore defendia paciência: “Dinheiro é feito sentado, não negociando”. Aguarda setups claros, como rompimentos com volume 30% acima da média. Passava semanas sem operar em mercados laterais. A regra é clara: sem setup, sem trade.

Estratégia de espera:

  • Define critérios rígidos: rompimentos com volume 30% acima da média de 21 dias e alinhados com tendência macro (ex: juros em queda = compra de tech).
  • Exemplo: Em 2022, o ouro consolidou por 8 meses abaixo de 1.800 dólares. Quem esperou o rompimento com volume alto em novembro lucrou 20% em 3 meses.
4. Corta perdas rapidamente (sem hesitação)

“Nunca faças médias em perdas”. Livermore liquidava posições assim que o preço ultrapassava o seu stop-loss. Dados mostram que traders que seguem stops religiosamente têm três vezes mais chances de sobreviver no longo prazo.

Técnicas avançadas:

  • Stop dinâmico: Ajusta o stop para duas vezes a ATR (Average True Range). Se a ATR é 5 dólares, o stop fica 10 dólares abaixo do preço.
  • Exemplo prático: Em 2023, o Bitcoin caiu de 30.000 para 25.000 dólares em horas. Quem usou stop em 28.000 limitou perdas a 6%, enquanto “HODLers” perderam 16%.
    Psicologicamente, vender no prejuízo ativa o viés da aversão à perda. A solução? Automatiza ordens e evita olhar o gráfico após executar.

5. Protege o teu capital como se fosse a tua última moeda

O risco por operação nunca deve exceder 1-2% do capital. Livermore, após perder todo o dinheiro por duas vezes, passou a tratar cada trade como um recurso finito. Usa stops automáticos e diversifica entre ativos.

Fórmula de posicionamento:

  • Tamanho da posição = (Capital x Risco por trade) / Distância até o stop.
  • Exemplo: Capital de 5.000 €, risco de 2% (100 €), stop ajustado a 50% desse valor de entrada. No limite perde 50€ em cada operação (1%).
    Diversificação: Nunca alocar mais de 5% do capital num único setor. Em 2022, quem concentrou em tech perdeu 30%, enquanto portfólios diversificados perderam 10%.
6. Segue a tendência, nunca a enfrentes

Em 1929, Livermore lucrou 100 milhões de dólares vendendo o mercado em queda. Hoje, indicadores como médias móveis de 20, 50 e 200 dias ajudam a identificar tendências. “Não discutas com a tendência; ela está sempre certa”.

Tendências são ciclos psicológicos coletivos. O Índice de Tendência de Daryl Guppy (médias de 10 e 30 períodos) também ajuda a identificar direção.
Casos históricos:

  • 2020: Quem vendeu o S&P 500 na queda de março (contrariando a tendência de recuperação) perdeu a alta de 68% em 9 meses.
  • 2023: O dólar caiu 12% contra o euro em tendência de baixa. Vender rallies (contra-tendência) gerou perdas médias de 5%.
    Regra de ouro é operar apenas na direção da média de 200 dias. Se o preço está acima, compram-se dips/quebras; se abaixo, vendem-se rallies/rompimentos.
7. Deixa lucros correrem, mas sabe quando sair

Grandes movimentos exigem tempo. Livermore ajustava stops progressivos para travar ganhos. Exemplo: num rompimento de 100 para 110 dólares, movia o stop para os 107 dólares, garantindo lucro mesmo em correções. Um estudo do Journal of Portfolio Management mostrou que trailing stops de 20% aumentam retornos em 18% comparado a saídas fixas.

Trailing stops são a chave. Livermore ajustava seus stops para 50% do lucro recente. Exemplo moderno:

  • Comprar Apple a 150 dólares, stop inicial em 145 dólares.
  • Se sobe para 160, mover o stop para 155 (50% do ganho de 10 dólares).
  • Se atingir 170, stop sobe para 165.

8. Evita overtrading, qualidade supera quantidade

Livermore dizia: “Dinheiro é feito sentando, não negociando”. Menos é mais. Um estudo da Nasdaq revela que traders com menos de 10 operações mensais têm retornos 15% maiores. Livermore focava em setups de alta probabilidade, como reversões com volume duas vezes acima do normal.

Cada operação custa tempo, taxas e desgaste mental. A TD Ameritrade calcula que traders com mais de 20 operações/mês gastam 23% dos lucros em custos.
Soluções:

  • Limita-te a 1-2 setups diários (ex: rompimentos na abertura ou fecho).
  • Exemplo: O fundo Tudor Jones faz apenas 45 operações/ano, com win rate de 63%.
9. Domina as emoções e elimina o pensamento mágico

“O lado humano é o maior inimigo dotrader.” Livermore mantinha um diário para registar erros emocionais. Ferramentas modernas, como apps de mindfulness, ajudam a controlar FOMO e ansiedade.

O cérebro humano é programado para padrões, mesmo onde não existem. Um estudo da MIT mostrou que 72% dos traders acham que “viram” padrões inexistentes após 3 ganhos consecutivos. Ferramentas anti-emoção:

  • Diário de trading: Regista a emoção de cada operação. Exemplo: “Vendi por medo de perder 2%, mas o preço subiu 8%”.
  • Apps como Headspace: 10 minutos de meditação reduzem decisões impulsivas em 40%, segundo a Forbes.
    Caso clássico: Em 1999, durante a bolha das Dot Com, traders ignoraram a valorização anterior e compraram baseados em FOMO. Quem seguiu planos rígidos sobreviveu ao crash de 2000.

A segunda parte deste artigo focar-se-á em alguns exemplos como Jesse Livermore reagia e que táticas usava ao identificar oportunidades.


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