The Trading Ring

Tarifas Comerciais, como sobreviver e ganhar em períodos de incerteza

Partilha este artigo

Quando no início de abril de 2025, Donald Trump anunciou um brutal aumento das tarifas comerciais por parte dos EUA, os mercados caíram fortemente. Movimento tático ou não, há quem defenda mesmo que tenha sido manipulação de mercado, recuos progressivos da administração americana levaram de um modo ou outro a uma recuperação total dessa época.

Algo, porém, se confirmou, porque sempre foi assim na história. Tarifas aduaneiras prejudicam a dinâmica global económica e os mercados financeiros não gostam da incerteza do que é dito num dia e no dia seguinte o seu contrário.

1. Porque as tarifas comerciais mudam o jogo dos mercados?

Tarifas comerciais são impostos aplicados sobre bens importados (e, menos frequentemente, exportados) por governos com o objetivo de proteger a produção nacional, gerar receitas ou influenciar negociações internacionais. Embora possam parecer uma ferramenta de política económica, o seu impacto vai muito além das fronteiras nacionais.

No contexto globalizado de hoje, tarifas afetam cadeias de produção, custos de matérias-primas, expectativas de lucros e, principalmente, o comportamento dos mercados financeiros. Um anúncio inesperado de tarifas pode provocar desde quedas abruptas em contratos futuros de “Matérias-Primas” até oscilações violentas em moedas e ações. Para traders — especialmente aqueles com contas financiadas ou limites de risco rigorosos — cada anúncio de tarifas transforma-se num evento macroeconómico de alto impacto, capaz de anular meses de disciplina em minutos.

2. Mercados sensíveis às tarifas

Nem todos os mercados reagem da mesma forma às tarifas. Alguns setores são mais afetados, precisamente onde o risco e a oportunidade são maiores:

Agrícolas (Soja, Milho, Trigo)

  • Impacto: Tarifas e sanções destroem expectativas de exportação, como ocorreu com a soja dos EUA para a China (queda de 74% nas exportações em 2018-2019).
  • Estratégia: Monitorizar relatórios do USDA, evitando operar com grandes remessas em dias de escalada política e sempre desconfiando de rompimentos falsos a reboque de notícias. Em resumo, ser altamente cerebral porque a volatilidade é comum.

Metais (Cobre, Aço, Alumínio)

  • Impacto: Tarifas elevam custos industriais, reduzindo procura global. O cobre, termómetro do crescimento, pode cair no seu valor mesmo com fundamentos sólidos.
  • Estratégia: Preferir operações de reversão à média, acompanhar índices industriais como o PMI e evitar posições grandes em períodos de incerteza.

Energia (Petróleo, Gás Natural)

  • Impacto: Exportações ficam vulneráveis, especialmente quando grandes importadores são afetados. Tarifas podem alterar expectativas globais de consumo.
  • Estratégia: Usar stops mais amplos, operar contratos líquidos (petróleo Brent e WTI), e considerar sobreposição com riscos geopolíticos.

Moedas (USD, JPY, EUR)

  • Impacto: Mudanças em fluxos comerciais e capitais alteram rapidamente a força das moedas. Intervenções de bancos centrais tornam-se mais frequentes.
  • Estratégia: Atenção a “gaps” noturnos abertos por motivos técnicos para criar volatilidade em horas em que há mais volume de negociação, monitorizar decisões de política monetária e evitar operar pares mais exóticos durante escaladas tarifárias.

Índices de Ações (S&P 500, Nasdaq, DAX)

  • Impacto: Tarifas reduzem expectativas de lucros, aumentam volatilidade e podem desencadear correções rápidas.
  • Estratégia: Usar o VIX – índice de volatilidade do mercado, que varia de modo inverso ao dos índices glocais como o SP500 ou Nasdaq – como termómetro. Da mesma forma deve-se beneficiar e priorizar a técnica de “scalping” e setups de curto prazo. Em última instância, é mesmo aconselhável a pausar operações em dias de anúncios importantes. Em todos os mercados, a liquidez seca nos momentos de incerteza, ampliando o risco de volatilidade, porque com menos gente a negociar é mais fácil manipular flutuações de preço.

3. Como as tarifas transformam o comportamento dos mercados

Em condições normais, os mercados futuros seguem padrões relativamente previsíveis, guiados por indicadores económicos, relatórios e ciclos sazonais. Com tarifas, tudo muda:

Volatilidade Explosiva

Tarifas introduzem volatilidade de evento — movimentos bruscos em resposta a manchetes, muitas vezes fora do horário regular de negociação, quando a liquidez é menor. Isso pode gerar gaps, reversões violentas e movimentos que fogem à lógica dos fundamentos.

Correlações Quebradas

Durante crises tarifárias, correlações históricas entre ativos podem desaparecer.

Ouro e ações, que normalmente se movem em direções opostas, podem cair juntos em picos de pânico. Matérias-Primas  como cobre e petróleo podem-se dissociar, dependendo de quais setores ou países são mais atingidos.

Tendências Interrompidas

Estratégias de tendência tornam-se vulneráveis. Um mercado em alta pode inverter sem aviso por causa de um tweet ou anúncio de tarifa.

Breakouts e pullbacks perdem confiabilidade, tornando “setups” tradicionais menos eficazes.

Solução: Operar mais em reversões à média, privilegiando suportes/resistências amplos e evitar trades baseados apenas em padrões de curto prazo. 

4. O Peso psicológico das tarifas

Tarifas não afetam apenas preços — afetam a mente do trader. É um inimigo invisível que está presente. A volatilidade e a incerteza elevam o risco de:

  • Overtrading: A tentação de “aproveitar” cada movimento pode levar a excesso de operações, maiores riscos e custos elevados.
  • Revenge trading: Perdas inesperadas podem desencadear decisões impulsivas para recuperar rapidamente, aumentando o risco de violar limites de perda.
  • Paralisia por medo: Após grandes oscilações, muitos traders hesitam em agir, perdendo oportunidades e confiança.

Dica prática:

  • Define limites de perda diária abaixo do máximo permitido.
  • Faz pausas após grandes movimentos.
  • Avalia cada trade pelo processo, não pelo resultado imediato.

5. Estratégias práticas em ambiente de tarifas

Gestão de Risco Rigorosa

  • Reduz o risco por cada trade (ex: de 2% para 1% do capital).
  • Ajusta stops com base na volatilidade do dia (ATR).
  • Mantem margem de segurança abaixo do limite diário permitido.

Informação e reação, nunca impulsividade

  • Usa alertas de notícias para monitorizar apenas eventos relevantes.
  • Espera 10-15 minutos após grandes anúncios para evitar armadilhas do primeiro movimento.
  • Analisa o contexto antes de agir: o mercado pode “precificar” notícias rapidamente, revertendo parte do movimento inicial.

Foca-te em contratos com liquidez

  • Prioriza ativos com alta liquidez para evitar que o preço escorregue para vendas possíveis diferentes das que pretendes. Vender ao melhor preço ou comprar ao melhor preço pode nessas circunstâncias ser algo diferente do que tinhas imaginado.
  • Evita mercados exóticos ou de baixa liquidez durante períodos de incerteza.

Adota estratégias táticas e curtas

  • Prefire operações rápidas (scalps, daytrading) a posições longas.
  • Realiza lucros rapidamente; não esperes movimentos prolongados em ambientes erráticos.
  • Fica fora do mercado como decisão estratégica. Em dias de extrema volatilidade, preservar o capital é mais importante do que buscar ganhos.
6. Conclusão, entre desafios e oportunidades

A introdução de tarifas comerciais reconfigura o cenário dos mercados financeiros, criando riscos e oportunidades em igual medida. Se fores disciplinado/a, informado/a e flexível, períodos de tarifas podem ser lucrativos — desde que haja respeito absoluto pelo risco, adaptação de estratégias e autocontrole emocional.

A volatilidade é inevitável, mas as perdas não precisam ser. Com preparação, análise e disciplina, é possível não só sobreviver, mas prosperar em ambientes de incerteza global.


Partilha este artigo

Leave a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *