Nas últimas semanas, os mercados financeiros enfrentaram uma turbulência significativa. A taxa de desemprego nos EUA subiu, alimentando a urgência de cortes de juros pela Reserva Federal e aumentando a probabilidade de uma recessão que a maioria já não acreditava devido à ótima resposta que a produção americana revelou ao longo do último ano. Para os traders e investidores no mundo, já que a maioria está a negociar com ativos da bolsa de Wall Street, a situação é desafiadora, mas também oferece oportunidades únicas para maximizar lucros e minimizar perdas.
Correção no Nasdaq 100
A recente rotação das Big Tech resultou numa correção acentuada no Nasdaq 100. Como num outro artigo já foi explicado, o Nasdaq 100 cujo índice tem 100 empresas da área tecnológica, o peso das “Sete Magníficas” é de mais de 40% do total. Apple 9%, Microsoft 7,5%, Nvidia 6%, Amazon 5%, Meta 5%, Google 5%, Broadcom 4,5%. Esta semana a rotação de capital e a venda de mais valias, levou a uma perda de valor mais acentuada. Nas últimas três semanas a perda de valor global é de mais de dois mil milhões de dólares.
Reação do Mercado e Volatilidade
O mercado está a reagir fortemente aos novos dados económicos. O índice de Volatilidade VIX superou a marca de 20.
- Inflação e Juros: Dados de junho mostraram a inflação a arrefecer, levando a especulações da chance de cortes de juros pela Fed já em Setembro.
- Pequenas Empresas: O Russell 2000 subiu cerca de 4,5% desde então, contrastando com a queda de 3,8% do Nasdaq 100.
- Gastos em IA: Gastos maiores do que o esperado em IA por empresas como Alphabet, Microsoft e Amazon levantaram a preocupações sobre uma possível bolha no setor. A Nvidia, a “locomotiva” do processo IA por conta da produção e distribuição de chips para toda a indústria há menos de dois meses chegou a ser a empresa mais valiosa do mundo em valor de mercado. Nas últimas três semanas perdeu 20% do seu valor total em bolsa.
Perspetiva de Longo Prazo
Apesar da volatilidade, a tendência de alta de longo prazo permanece intacta. No quadro de análise neste momento, é bastante provável que a descida tenha ainda margem para continuar. Há “Gaps” para fechar, há métricas de análise e projeção de preço que estão ainda longe de uma definitiva reversão, sem esquecer que os padrões que identificam que o mercado entrou na fase de pânico, por norma a última fase de aceleração de volume em baixa, não aconteceu ainda. Sim, iremos mais abaixo ainda, mas a tendência global de alta dos mercados não está comprometida.
Sim, as quedas fortes assustam muito, mas vamos ser realistas. O Nasdaq recuou pouco mais de 10% desde o seu máximo. E apesar disso ainda está positivo quase 12% desde o início do ano.
O SP500 por sua vez, perde pouco mais de 5% desde o seu máximo e também ainda valoriza cerca de 12% desde o início de 2024. Está a negociar ao final dos primeiros dias de Agosto no mesmo valor do que estava no início de Junho.
Na realidade parece que os investidores se esqueceram que o mercado também desce, devido à consistente e pouco saudável subida permanente, sem pausas, sem descanso, dos mercados desde Outubro do ano passado. Foram nove meses muito esticados. E uma das regras que deve ser aprendida na história das bolhas e sobrevalorização dos ativos, é que nada sobre sempre.
78% das ações do S&P 500 estão em tendência de alta, com a maioria acima das médias móveis de 50 e 200 dias e Julho mostrou uma consolidação saudável, com 9 de 11 setores em alta.
Aumento da Probabilidade de Corte de Juros
O mercado antecipa o corte de juros agora devido aos dados económicos mais fracos. A probabilidade de um corte na próxima reunião do Fed em setembro aumentou para o dobro, depois da taxa de desemprego subir de 4,1% para 4,3%, com dados de empregabilidade (com exceção do setor agrícola) nos níveis mais baixos desde janeiro de 2021.
O Indicador Buffett: Chave Para Decifrar o Mercado de Ações
Desde o início da pandemia, sussurros sobre uma recessão iminente circulavam e preocupavam investidores e analistas económicos. Warren Buffett, o magnata bilionário e CEO da Berkshire Hathaway, num artigo de opinião publicado em 2008 no The New York Times, Buffett aconselhou: “Tenha medo quando os outros são gananciosos e ganancioso quando os outros têm medo.”
Na essência, isso significa que, quando as pessoas estão receosas em investir, como antes ou durante uma recessão, essa é uma boa oportunidade para comprar ações e outros ativos a preços descontados. Um dos instrumentos mais valiosos de Buffett para avaliar o mercado de ações é o que chamamos de Indicador Buffett. Este indicador é a relação entre o valor total do mercado de ações dos EUA e o Produto Interno Bruto (PIB) do país, fornecendo uma medida clara e direta do valor do mercado de ações em comparação com o tamanho da economia.
Vamos considerar um exemplo prático: em 31 de maio de 2024, o valor total do mercado de ações dos EUA era de quase 56 mil biliões de dólares, enquanto o PIB anualizado era de pouco mais de 28 mil biliões. Usando a fórmula, do primeiro a dividir pelo segundo, chegava-se a cerca de 200% como resultado. O valor das ações era o dobro do PIB americano. Um valor que indica uma clara supervalorização significativa.
Por Que o Indicador Buffett é Importante?
Se o valor do mercado de ações cresce muito mais rápido do que a economia real, pode ser um sinal de que o mercado está numa bolha. A última bolha foi muito relacionada desde Outubro de 2023, com o impulso dado a reboque das tecnológicas e no setor da Interligência Artificial em particular, além das expectativas de cortes nas taxas de juros pela Reserva Federal.
A história sugere cautela quando o mercado está significativamente supervalorizado em relação ao PIB. Quando a relação está na faixa dos 70% a 80%, as compras de ações tendem a ser altamente benéficas para os investidores. Por outro lado, uma relação próxima ou superior a 200% sugere um ambiente de mercado altamente arriscado.
O Que Fazer Quando o Indicador Buffett Está Alto?
Quando o Indicador Buffett atinge níveis alarmantes, como os atuais, isso não significa necessariamente que os investidores devam vender todas as suas ações imediatamente. Em vez disso, são sugeridas algumas estratégias prudentes:
Diversificação
Distribuir ativos por setores Diferentes, não colocando todos os recursos num único setor, especialmente em tecnologia. Considerar setores defensivos como saúde e bens de consumo.
Vender nas recuperações
Deve-se parar de falar em “comprar na baixa” e começar a pensar em “vender nas recuperações”. Essa mudança de mentalidade é crucial num mercado onde as quedas podem ser seguidas por recuperações temporárias, oferecendo oportunidades para venda. Por outro lado, para investidores mais familiarizados com o “short” de ativos, a ideia é investir na desvalorização das ações ou índices. É possível também investir em ETFs que valorizam na razão inversa da queda dos ativos financeiros correspondentes.
Geografia
Investir em mercados internacionais para diluir o risco associado a uma economia específica, neste caso a americana.
Opções de Venda (Puts)
Proteger o portfólio comprando opções de venda, de modo a minimizar as perdas caso as ações continuem a cair.
Futuros
Considerar contratos futuros para hedge estratégico contra movimentos adversos do mercado.
Foco no Longo Prazo
Sim as quedas foram pronunciadas mas, com uma exceção aqui ou ali, a história determina que no futuro o valor das empresas venha a ser maior. Embora a volatilidade de curto prazo possa ser assustadora, manter um foco no longo prazo e em fundamentos sólidos, pode ajudar a navegar por tempestades económicas. Empresas sólidas e bem estabelecidas (conhecidas como blue chips) podem ser bons investimentos. A maioria dessas grandes empresas estará estabelecendo novos recordes de lucro nos próximos 5, 10 e 20 anos.
Construir Liquidez
Manter uma quantidade significativa de dinheiro em mãos para que se possam tomar decisões inteligentes e não forçadas em tempos de crise. Evitar ativos que possam prender o dinheiro de maneira excessiva.
Exemplos Históricos e Contexto Atual
Historicamente, o Indicador Buffett tem previsto com eficácia crises do mercado. Em 2001, o indicador estava no “vermelho”, destacando uma supervalorização que contribuiu para o estouro da bolha da internet. A queda resultante no mercado de ações, particularmente nas empresas de tecnologia, reduziu a confiança dos investidores e impactou negativamente a economia. Atualmente, em agosto de 2024, o Indicador Buffett está em torno de 197%, um nível semelhante ao observado antes de declínios significativos no passado.
Conclusão
A aceleração na queda dos mercados e a crescente probabilidade de cortes de juros indicam um período de alta volatilidade.
Navegar no mercado de ações durante períodos de incerteza requer uma abordagem estratégica e informada. É importante uma mentalidade cautelosa e adaptável. Ao focar em venda durante recuperações, manter liquidez e diversificar investimentos, os investidores podem proteger os portfólios e estar preparados para aproveitar oportunidades futuras, mesmo num cenário económico menos favorável. Adotar essas estratégias pode não apenas ajudar a mitigar riscos, mas também posicionar os investidores para capturar ganhos quando o mercado eventualmente se estabilizar.
Estar informado, usando ferramentas de análise técnica e obter o conhecimento suficiente para ajustar táticas conforme necessário, é decisivo na transformação que procuras para lucrar nos mercados em qualquer situação. Em momentos de incerteza, a preparação e a flexibilidade são as nossas maiores aliadas. No TheTradingRing dizemos que somos agnósticos em relação à direção que o mercado queira tomar. Nós lucramos com ele em qualquer situação.